Instabilidade climática pode ser responsável pela queda na produção de soja na safra 2023/24

Fábio Marin comenta estimativa do sistema TempoCampo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, e diz que é mais precisa do que aquelas projetadas pelo governo e pelos produtores

 02/02/2024 - Publicado há 3 meses
O clima é o principal fator de variabilidade na produção e toda gestão de agricultura deve considerar essas variações – Foto: Freepik
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A produção de soja brasileira na safra de 2023/24 deve ser de 147 milhões de toneladas, com média de 54 sacas por hectare, indica levantamento do sistema TempoCampo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo. O número é cerca de 7,12% menor em relação à safra anterior.

Fabio Marin, coordenador do TempoCampo e professor do Departamento de Engenharia de Biossistemas da Esalq, explica o processo de levantamento das informações para o estudo e sua importância para a agricultura nacional. Ele conta que a estimativa é mais precisa do que aquelas projetadas pelo governo e pelos produtores.

Levantamento de dados

Segundo o especialista, o modelo da pesquisa é baseado em processos físicos, químicos e fisiológicos de cada cultura e, nessa ocasião, foi abordada a cultura da soja. Ele conta que os produtores do País estão muito aflitos com a possibilidade de um ano de preços baixos e clima desfavorável e, por isso, a Esalq organizou o levantamento para obter uma estimativa próxima à realidade.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) previu uma produção de 155 milhões de toneladas no período, enquanto a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) estimou cerca de 135 milhões de toneladas. Marin afirma que a projeção do TempoCampo, após considerar o que é perdido pelas condições climáticas, fica entre esses dois números projetados pelas instituições.

“Nosso sistema tem uma premissa que é assumir que o manejo, ou seja, o cuidado com as lavouras foi exatamente igual ao dos últimos três anos, porque foi assim que a gente calibrou esse modelo. Então, se a gente coloca que o manejo foi repetido, o clima consumiu 7% dessa safra, que é exatamente o número projetado pelo TempoCampo e que fica no meio do caminho entre esses dois”, afirma.

Fabio Marin – Foto: Reprodução/Esalq

Influência climática

De acordo com o professor, o clima é o principal fator de variabilidade na produção e toda gestão de agricultura deve considerar essas variações. Ele conta que toda produção deve estar atenta e conseguir isolar o fator climático, por isso seu departamento auxilia diversas empresas e produtores nesse monitoramento.

Marin explica que a projeção de safra é uma média do que é esperado entre todos os Estados brasileiros. Ele diz que há uma grande variação na produção entre cada unidade federativa, o Rio Grande do Sul, por exemplo, espera 50% de aumento na produção, enquanto Paraná e Mato Grosso aguardam uma queda entre 15% e 20% no período.

O coordenador do TempoCampo informa que o El Niño é o maior influenciador nessa alternância entre diferentes locais. Ele conta que, de outubro a dezembro, o fenômeno atingiu os Estados de Minas Gerais, Mato Grosso e a Região Norte do País durante a época de semeadura, ao passo em que São Paulo e a Região Sul passaram por uma fase próspera.

“Quando chegou o final de dezembro e início de janeiro, o cenário inverteu e o centro-norte do Brasil passou a ter uma condição mais favorável, enquanto São Paulo e Paraná passaram por um mês muito difícil. Enquanto uns perderam bastante no começo, outros perderam um pouco depois e aí a gente tem essa distribuição”, analisa. 

Produtividade da cultura

Para Fabio Marin, o solo e a atmosfera são os principais fatores na agricultura, mas o solo é mais fácil de lidar porque é estático e não sofre muita influência do clima. A atmosfera, por sua vez, varia bastante de acordo com as condições climáticas e, segundo ele, essa é a causa pela qual muitos produtores utilizam o tempo como justificativa para suas perdas.

Conforme o especialista, o índice de produtividade de uma lavoura é medido por uma relação entre o Coeficiente de Produtividade do Clima (CPC) e o Coeficiente de Produtividade do Manejo (CPM). Ele conta que o CPC será o mesmo em locais próximos e o CPM influencia fortemente a produção, de modo que, caso a cultura esteja com índices de perda muito acima do CPC, provavelmente há uma falha na questão de manejo humano. “O clima foi 7% pior, segundo a avaliação, então quem perdeu mais do que sete, provavelmente teve problema de ordem humana. Se alguém, por exemplo, perdeu 20%,  pode ser preciso olhar o que aconteceu na sua lavoura”, explica.


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