Human Rights Watch acusa Arábia Saudita de promover assassinato em massa de migrantes

Marília Fiorillo afirma que seria importante que não se sonegasse da opinião pública fatos tão graves como esses

 25/08/2023 - Publicado há 8 meses
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A velocidade de disseminação de fake news e deep fakes é assustadora, assim como os danos provocados. Mas talvez notícias reais e verificadas por fontes de alta credibilidade não fiquem nada a dever, em termos de urgência e emergência para sua solução. Estamos nos referindo ao aumento exponencial das violações aos direitos humanos, em particular àquelas que afetam o universo gigante de migrantes que fogem de guerras e da fome. Um relatório da Human Rights Watch, publicado esta semana pela BBC, acusa a Arábia Saudita de promover o assassinato em massa de migrantes que tentam entrar no país em busca de trabalho na indústria de petróleo.  Aqueles que se arriscam são abatidos a tiros pelos guardas de fronteira.

Governada de fato pelo príncipe Mohamed Bin Salman (o mesmo que encomendou o esquartejamento do jornalista Jamal Khashoggi no consulado saudita em Istambul), a Arábia Saudita, graças à amizade e zelo de seus amigos poderosos, consegue o feito de acobertar crimes que, se fossem cometidos no Irã, Crimeia ou Venezuela, seriam manchetes. O relatório, intitulado They fired on us like rain (Atiram na gente como uma chuva), descreve em detalhes como as pessoas (a maioria etíopes) são alvos de explosivos e tiroteios da polícia quando tentam cruzar a fronteira do Iêmen. Os sobreviventes, que já haviam sido submetidos à extorsão do tráfico humano e jornadas penosas, acabam encurralados no Iêmen (alguns em campos de detenção na capital Saana) ou voltando, feridos, à Etiópia.

Conforme a Organização Mundial para a Migração, da ONU, mais de 200 mil pessoas por ano tentam essa perigosa travessia do Chifre da África para o Iêmen, e de lá para o Eldorado saudita. Crimes contra a humanidade não são privilégio do século 21. Basta lembrar os campos da morte no Camboja, durante o odioso regime do Khmer Vermelho e Pol Pot. A novidade é a escala e o padrão adotados pelo governo saudita. Vamos poupar o ouvinte de detalhes abjetos: basta dizer que a polícia de fronteira pergunta às suas vítimas se preferem levar um tiro na perna esquerda ou direita. “São assassinatos em massa”, diz o relatório sobre o período entre março de 22 e junho deste ano.

É esperado, mesmo desejável para nossa saúde mental, que se dê mais relevo à chegada na Lua de uma espaçonave da Índia. Mas seria importante que não se sonegasse da opinião pública fatos tão graves como esses.


Conflito e Diálogo
A coluna Conflito e Diálogo, com a professora Marília Fiorillo, vai ao ar quinzenalmente sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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