No domingo (19), Javier Milei foi eleito o novo presidente da Argentina. Durante sua campanha, afirmou que cortaria relações econômicas e diplomáticas com o Brasil, por divergências ideológicas. As relações entre Brasil e Argentina existem há anos e acontecem no âmbito econômico, comercial e diplomático. Amâncio Jorge da Silva, professor titular do Instituto de Relações Internacionais (IRI), explica como a vitória de Milei impactará o vínculo entre os países.
Relação Brasil-Argentina
A eleição de Milei já estava prevista pelas pesquisas de intenção de voto argentinas, o que preocupa o Brasil há algum tempo. Entretanto, as últimas decisões tomadas pelo novo presidente podem indicar uma mudança em seu posicionamento. De acordo com Silva, como Milei não se elegeu no primeiro turno, foi preciso realizar uma parceria para conseguir receber mais votos. A aliança entre o presidente e a coalizão Juntos pela Mudança, segundo o professor, “modera a política e provavelmente o plano de governo dele”.
Em declaração, Milei e sua futura chanceler, Diana Mondino, afirmaram que a presença de Lula será bem-vinda na posse para a Presidência. Silva acredita que a posição do futuro presidente, de não se relacionar com o Brasil, deve mudar nos próximos meses. “Não ter interação, não ter relações diplomáticas é impossível, dada a interdependência dos dois países”, explica o professor.
Mercosul
Haverá, em dezembro, uma troca de presidência do Mercado Comum do Sul (Mercosul). Segundo Silva, essa mudança será importante para entender o posicionamento da Argentina em relação ao bloco. O próprio Lula afirmou que gostaria de finalizar o acordo entre Mercosul e União Europeia (UE) antes da posse de Milei. Porém, isso seria um erro político, e é mais importante esperar a transição de governos para analisar a postura argentina.
Possibilidade de diálogo
Para Silva, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) já estão trabalhando para construir um diálogo e aproximação com a Argentina. “O presidente Lula tem que aguardar […] para também não ter nenhuma relação de constrangimento, mas essa aproximação tem que ser gradual e via Itamaraty.”
Para os próximos anos é possível esperar um cenário de esfriamento na relação entre Brasil e Argentina. Uma das políticas de Milei pretende transformar em dólar a moeda do país, o que afastaria ainda mais a integração econômica prevista pelo Mercosul. De todo modo, a ruptura total proposta pelo novo presidente argentino, segundo o professor, seria um “desastre e dificilmente factível de implementar”.
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