Disputa entre Venezuela e Guiana pela região de Essequibo remonta ao século 19

Rafael Villa não acredita que a reunião entre os presidentes de ambas as nações, prevista para hoje, resulte numa solução a longo prazo, assim como não crê na possibilidade de um conflito armado

 14/12/2023 - Publicado há 5 meses
Discurso de Maduro sobre a guerra não é propenso a se concretizar – Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr – Agência Brasil via Wikimedia Commons – CC
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Os presidentes da Venezuela e da Guiana se reunirão nesta quinta-feira (14), em São Vicente e Granadinas, país no Caribe, para discutir o território de Essequibo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enviou o assessor chefe da Assessoria Especial da Presidência, Celso Amorim, para o encontro. 

O professor Rafael Villa, do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo e do Instituto de Relações Internacionais (IRI), fala das expectativas diplomáticas para a região.

História da disputa territorial

A controvérsia entre Venezuela e Guiana sobre a região de Essequibo — área que possui grande reserva de petróleo — tem origem no final do século 19 e ambos os países reivindicam como seu, embora faça parte do território guianense. O professor discorre que a disputa territorial pela Guiana tem mais de 130 anos e que a região era pertencente ao antigo Império Espanhol na América Hispana. Em aproximadamente 1830, o império inglês invadiu essas áreas e a Venezuela reivindicou a devolução do território em finais do século 19.

A Guiana perpetua o controle de Essequibo devido à Sentença Arbitral de Paris, de 1899. “Nos anos 60, houve um processo de negociação entre o governo da Inglaterra e da Venezuela sobre o território da Guiana Essequiba, chegando ao acordo de Genebra. A possibilidade de negociação estava sendo tratada no nível da ONU”, explica o professor. Ele acrescenta que a problemática da questão é a disputa territorial e pelo petróleo. 

Presença do Brasil

Conforme afirma o especialista, a presença do Brasil não foi solicitada – o País tomou a iniciativa de participar e, assim, a política externa brasileira irá realizar sua primeira ação diplomática de maneira concreta, pela paz e expedição internacional.

“De maneira concreta, influenciando processos que levem à manutenção da paz nesse conflito, esta é a primeira ação concreta e importante para a diplomacia brasileira, que deveria se ocupar mais com os problemas da região, onde tem possibilidade de sucesso na situação diplomática, na procura de acordo de paz” acrescenta. 

Conflito armado

Rafael Antonio Duarte Villa- Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

O professor declara que não enxerga possibilidade de conflito armado, pelo tamanho populacional da Venezuela, nível de pobreza e inflação alta. Além disso, ele diz que o discurso de Maduro sobre a guerra não é propenso a se concretizar. “A sociedade venezuelana, com 7 milhões de imigrantes,  níveis de pobreza e com inflação de mais de 300% ao ano, se Maduro começa uma guerra, sai do poder imediatamente, no dia seguinte, porque a sociedade não toleraria,” reitera.

De acordo com o professor, a reunião que acontece hoje não irá trazer soluções definitivas para as reclamações da Venezuela. O objetivo do encontro é prevenir, a fim de abaixar o tom no discurso diplomático, ainda mais com a possibilidade de presença americana. “O objetivo dessa reunião é apaziguar esse tom belicista. Não vai sair nenhuma solução a longo prazo”, finaliza.


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