Os presidentes da Venezuela e da Guiana se reunirão nesta quinta-feira (14), em São Vicente e Granadinas, país no Caribe, para discutir o território de Essequibo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enviou o assessor chefe da Assessoria Especial da Presidência, Celso Amorim, para o encontro.
O professor Rafael Villa, do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo e do Instituto de Relações Internacionais (IRI), fala das expectativas diplomáticas para a região.
História da disputa territorial
A controvérsia entre Venezuela e Guiana sobre a região de Essequibo — área que possui grande reserva de petróleo — tem origem no final do século 19 e ambos os países reivindicam como seu, embora faça parte do território guianense. O professor discorre que a disputa territorial pela Guiana tem mais de 130 anos e que a região era pertencente ao antigo Império Espanhol na América Hispana. Em aproximadamente 1830, o império inglês invadiu essas áreas e a Venezuela reivindicou a devolução do território em finais do século 19.
A Guiana perpetua o controle de Essequibo devido à Sentença Arbitral de Paris, de 1899. “Nos anos 60, houve um processo de negociação entre o governo da Inglaterra e da Venezuela sobre o território da Guiana Essequiba, chegando ao acordo de Genebra. A possibilidade de negociação estava sendo tratada no nível da ONU”, explica o professor. Ele acrescenta que a problemática da questão é a disputa territorial e pelo petróleo.
Presença do Brasil
Conforme afirma o especialista, a presença do Brasil não foi solicitada – o País tomou a iniciativa de participar e, assim, a política externa brasileira irá realizar sua primeira ação diplomática de maneira concreta, pela paz e expedição internacional.
“De maneira concreta, influenciando processos que levem à manutenção da paz nesse conflito, esta é a primeira ação concreta e importante para a diplomacia brasileira, que deveria se ocupar mais com os problemas da região, onde tem possibilidade de sucesso na situação diplomática, na procura de acordo de paz” acrescenta.
Conflito armado
O professor declara que não enxerga possibilidade de conflito armado, pelo tamanho populacional da Venezuela, nível de pobreza e inflação alta. Além disso, ele diz que o discurso de Maduro sobre a guerra não é propenso a se concretizar. “A sociedade venezuelana, com 7 milhões de imigrantes, níveis de pobreza e com inflação de mais de 300% ao ano, se Maduro começa uma guerra, sai do poder imediatamente, no dia seguinte, porque a sociedade não toleraria,” reitera.
De acordo com o professor, a reunião que acontece hoje não irá trazer soluções definitivas para as reclamações da Venezuela. O objetivo do encontro é prevenir, a fim de abaixar o tom no discurso diplomático, ainda mais com a possibilidade de presença americana. “O objetivo dessa reunião é apaziguar esse tom belicista. Não vai sair nenhuma solução a longo prazo”, finaliza.
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