Consequências do desastre climático no RS ainda devem ser sentidas por muito tempo

No entender de Pedro Luiz Côrtes, a reconstrução não deve ser pensada como uma retomada ao que era antes, mas como uma oportunidade para melhoria

 Publicado: 10/05/2024
A perspectiva de melhora do nível das águas, que lentamente vinha baixando, não deve continuar – Foto: Gilvan Rocha/Agência Brasil
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Já foram 107 mortes e quase 400 mil desalojados pelas tragédias climáticas. As previsões de melhora, porém, são menos positivas do que se esperaria. Apesar da pluviosidade ser menor do que nas semanas anteriores, o clima não contribuirá da forma que as vítimas gostariam. Pedro Luiz Côrtes, professor do Instituto de Energia e Ambiente da USP, comenta o assunto.

A partir de um sistema de alta tecnologia, Côrtes indica o que é esperado para o fim de semana: “Nós teremos chuvas intensas nas regiões norte e nordeste do Rio Grande do Sul. No restante do Estado, as chuvas serão um pouco mais fracas”. Esse cenário no interior e no sul do Estado deve se manter até o fim do mês, com apenas uma eventual chuva mais forte por volta do dia 21.

As chuvas no norte são um motivo de preocupação. O especialista afirma que “o trecho de serra [no norte do Estado] foi muito afetado e é parte da bacia do rio Guaíba”. Isso impacta diretamente o resto do Rio Grande do Sul: “As águas que caírem ali fatalmente serão levadas até o Guaíba, e isso compromete a situação de Porto Alegre”.

A perspectiva de melhora do nível das águas, que lentamente vinha baixando, não deve continuar. “Ou ele vai manter o nível, ou ele vai voltar a subir um pouco. Esse cenário de parte da cidade inundada deve permanecer”, diz Côrtes. Cerca de 30% da capital está inundada.
Também sobre este fim de semana, a expectativa é de frio, que deve seguir até o fim do mês. Enquanto o Sudeste se anima com o alívio, Côrtes ressalta que isso é mais um baque para quem passa por enchentes: “Para quem está lidando com a água constantemente, [a temperatura baixa] é um complicador, porque isso pode levar ao surgimento de doenças respiratórias”.

Uma vez provado que desastres desse tipo são possíveis e podem voltar a acontecer, reconstruir deve ser uma oportunidade para melhoria – Foto: Marinha do Brasil/Divulgação/Agência Brasil

Reconstrução do Estado

As consequências do desastre ainda serão sentidas por muito tempo. A necessidade inicial, segundo o professor, “é recompor os suprimentos básicos com medicamentos, água, alimentos e combustível”. Fora isso, é preciso avaliar o fornecimento de água, pois mesmo nos lugares que não tiveram corte o recurso pode ter sido contaminado com doenças.

A longo prazo, as mudanças devem envolver toda a população. Côrtes afirma: “Além de recursos, vai precisar de muita capacidade técnica e o envolvimento de todos, superando divergências políticas e ideológicas”. Já na prática, a reconstrução não deve ser pensada como uma retomada ao que era antes. Uma vez provado que desastres desse tipo são possíveis e podem voltar a acontecer, reconstruir deve ser uma oportunidade para melhoria. Côrtes diz que “o ideal seria que, nesse processo, o nível de resiliência crescesse”, complementando que “será necessário estabelecer rotas alternativas e reavaliar os riscos geológicos e hidrológicos”.


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