De acordo com a professora Marília Fiorillo, combater fake news pode ser mais fácil do que parece. Seria necessário, claro, uma legislação que coibisse abusos e impusesse penalidades aos falsificadores de plantão, esse seria o caminho ideal, num mundo ideal. “Mas, neste mundo em que os Elon Musks detêm um poder estratosférico, que gargalha dos Estados nacionais e debocha das leis, e o fato de que 99,9% das fake news são financiadas pela extrema-direita internacional e nacional, pretender combater fake news através de elogiáveis regulamentações ou decisões judiciais é como achar que se pode deter um tsunami com alguns ventiladores colocados na praias, soprando na direção contrária”, argumenta Marília. Por outro lado, a colunista reconhece que as fake news são atraentes, além de lucrativas, o que se deve ao seu sensacionalismo. Na falta de pão, diz ela, nos sobra o circo.
“Fake news mobilizam duas emoções viscerais: a pulsão repetitiva do vício, e o prazerzinho de ver o outro se dar mal. Freud chamava essa segunda emoção de schadenfreude. Há uma anedota sobre a inveja que esclarece isso: prometeram a um invejoso dar-lhe o que quisesse, desde que seu vizinho recebesse o dobro. O invejoso, então, pediu: furem só um dos meus olhos. O doutor Freud sabia que, em essência, continuamos primitivos, belicosos, irracionais. O Mal-Estar na Civilização trata disso. Daí a fórmula clássica, que pode arrepiar à primeira vista: civilização é repressão, isto é, sua supressão pelas normas e tabus que tornam possível a vida em comunidade”, diz a colunista, na opinião de quem “hoje depende muito de nós, de cada um, frear a praga das fake news. Como a que ocorre na tragédia climática do Rio Grande do Sul e em outras fake news, ou narrativas, de crimes premeditados pelo mundo”.
Marília dá a fórmula: “Nunca reproduzir, se você desconfia do remetente, ou do tom rancoroso, escandaloso ou pseudo denuncista. Mesmo os bons samaritanos, que reproduzem mentiras e calúnias com a melhor das intenções, para desqualificá-las ou alertar contra elas acabam dando munição ao inimigo, pois inadvertidamente somam-se aos que disseminam barbaridades e a barbárie. Então: nunca repassar, nunca reproduzir, não dar bola – pausar por cinco minutos, respirar, verificar e, provavelmente, deletar”.
Conflito e Diálogo
A coluna Conflito e Diálogo, com a professora Marília Fiorillo, vai ao ar quinzenalmente sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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