Dois fatos relevantes envolvendo a ciência na última semana, um positivo e outro negativo, são destacados pelo físico Paulo Nussenzveig na coluna Ciência e Cientistas. “O primeiro foi a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a adoção da vacina RTS,S, contra malária, para aplicação em crianças na África Subsaariana”, conta. “O segundo foi a decisão da Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional, a pedido do Ministério da Economia, de remanejar em favor de outras alíneas 90% dos recursos de um projeto de lei originalmente formulado para destinar créditos suplementares às áreas de ciência e tecnologia.”
“Nas notícias iniciais sobre o histórico anúncio da OMS, que apareceram na primeira página dos principais jornais, passou despercebido o fato de que a vacina RTS,S é resultado de pesquisas pioneiras realizadas por um casal de cientistas brasileiros”, relata Nussenzveig. “Trata-se da primeira vacina contra um parasita, o protozoário Plasmodium falciparum, cujo ciclo de vida após infectar humanos passa por diversos estágios, o que torna o desenvolvimento de uma vacina especialmente difícil. Em 1967, Ruth Nussenzweig demonstrou que seria viável obter imunidade em camundongos contra esporozoítos, que correspondem ao primeiro estágio da malária em humanos”.
“Nos anos 1980, junto com seu marido, Victor Nussenzweig, eles identificaram a proteína circunsporozoíta, que ativa o sistema imune, clonaram seu gene e a produziram em laboratório. Essa proteína é a base da vacina que acaba de ser recomendada e que permitirá salvar milhares de vidas”, destaca o físico. “Meus tios, Ruth e Victor, fizeram a carreira científica em Nova York, desde os anos 1960, por falta de apoio financeiro e por perseguições políticas do governo autoritário da época. Comentei em coluna recente o êxodo de jovens cientistas que o atual governo está provocando… O segundo fato da semana passada contribui para acelerar a fuga de cérebros.”
Ciência e Cientistas
A coluna Ciência e Cientistas, com o professor Paulo Nussenzveig, no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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