A impune repetição da história

Marília Fiorillo comenta livro do intelectual palestino Edward Said, de 1978, mas que bem poderia ter sido escrito agora, dada a insistência de um passado imerso em derramamento de sangue em retornar

 17/11/2023 - Publicado há 6 meses
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Para resumir o andamento da guerra de Israel contra a população palestina de Gaza, que não é um choque de civilizações, como alguns pretendem, e cujo doloroso morticínio temos acompanhado em imagens chocantes, gostaria de citar um dos intelectuais contemporâneos mais respeitados e  importantes, o palestino Edward Said. Said escreveu inúmeros livros, o mais famoso deles Orientalismo – O Oriente como Invenção do Ocidente, de 1978. O trecho abaixo é do prefácio de 2003 da obra.

Orientalismo é, em grande medida, um livro ligado à dinâmica tumultuosa da história contemporânea. Assim sendo, enfatizo que nem o termo ‘Oriente’ nem o conceito de ‘Ocidente’ têm estabilidade ontológica (isto é, são conceitos universais, que independem da nossa distorcida percepção): ambos são constituídos de esforço humano, parte afirmação, parte identificação do outro. O fato de que essas rematadas ficções se prestem facilmente à manipulação e à organização das paixões coletivas nunca foi mais evidente do que em nosso tempo, quando a mobilização do medo, do ódio e do asco, bem como da presunção e da arrogância ressurgentes – boa parte disso relacionada ao Islã e aos árabes de um lado, e a ‘nós’, os ocidentais, do outro – , é um empreendimento em escala muito ampla.

A primeira página de Orientalismo se abre com uma descrição de 1975 da guerra civil libanesa – que acabou em 1990 – , mas a violência e o lamentável derramamento de sangue humano prosseguem neste exato minuto.” Parece um testemunho escrito agora. Como é atual, precisa e contundente esta análise dos dramáticos acontecimentos e crimes de guerra cometidos impunemente neste instante.


Conflito e Diálogo
A coluna Conflito e Diálogo, com a professora Marília Fiorillo, vai ao ar quinzenalmente sexta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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