Pílula Farmacêutica #55: Tragédia da talidomida marcou história farmacêutica

Episódio infeliz de uso por gestantes garantiu rígida normatização de segurança para registro de medicamentos

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 02/02/2021 - Publicado há 3 anos
Jornal da USP
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Pílula Farmacêutica #55: Tragédia da talidomida marcou história farmacêutica
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Nesta edição do Pílula Farmacêutica a acadêmica Giovanna Bingre, orientanda da professora Regina Andrade, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, conta um pouco da trágica história do uso da talidomida por gestantes ocorrida no mundo no final da década de 1950 e início dos anos 1960, mas que no Brasil perdurou até pelo menos 1965.

A droga, desenvolvida na Alemanha para tratar hanseníase e lúpus, começou a ser distribuída pelo mercado mundial em 1957. Porém, informa a acadêmica, como possui ação sedativa, passou a “ser indicada para mulheres grávidas” no alívio dos típicos enjoos da gravidez. O problema, descoberto anos depois, em 1961, é que a talidomida é teratogênica – pode causar dano ao embrião ou ao feto, provocando malformações como o subdesenvolvimento das pernas, ausência dos braços e outros defeitos no esqueleto dos futuros bebês.

Retirado do mercado na Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos em 1961, o remédio entrou no Brasil e, por falta de informações, continuou a fazer vítimas. A efetiva retirada do mercado nacional ocorreu apenas em 1965 e, além de ter sido tardia, “o consumo do remédio continuou de forma indiscriminada”, conta Giovanna.

Em 1962, um ano após ser lançado no Brasil, mais de 300 crianças brasileiras já haviam sofrido os efeitos teratogênicos da talidomida. Segundo a acadêmica, estima-se que mais de 10 mil pessoas tenham sido vítimas do medicamento ao redor do mundo.

A tragédia foi seguida por batalhas judiciais das famílias das vítimas contra o laboratório responsável pela fabricação do remédio. Aqui no Brasil, o governo federal, responsável pela saúde da população, também foi processado. O Estado de São Paulo reconheceu, por lei sancionada em 1978, o direito das vítimas. E o governo federal fez o mesmo em 1982, quase 20 anos depois do nascimento das primeiras crianças.

A regulamentação total da questão farmacêutica, informa Giovanna, ocorreu somente na década de 1990 e, em 2003, a talidomida passou a ter uso controlado no País. Hoje, a droga só pode ser usada para tratar hanseníase, lúpus e HIV, por ser um bom aliado no controle dessas doenças. Mas, afirma a acadêmica, somente se for receitada por um médico e, mesmo assim, é proibida para mulheres em idade fértil.

Ouça este episódio do Pílula Farmacêutica na íntegra no player acima.


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