Cultura ibero-americana será tema da Cátedra José Bonifácio em 2015

A escritora Nélida Piñon tomou posse como nova titular da Cátedra José Bonifácio, no dia 12 de março. A nova catedrática foi apresentada pelo professor aposentado da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), Alfredo Bosi, que ressaltou os prêmios literários internacionais com as quais Nélida foi agraciada ao longo de sua carreira, dentre eles, o Prêmio Príncipe de Astúrias das Letras de 2005.

 18/03/2015 - Publicado há 10 anos
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(Da esq.p/ dir.) Os professores Celso Lafer e Alfredo Bosi; a nova titular da Cátedra, Nélida Piñon; o reitor Marco Antonio Zago; o titular da Cátedra em 2014, Enrique Iglesias; o embaixador Fernando Mello Barreto, e o professor Pedro Bohomoletz de Abreu Dallari

A escritora Nélida Piñon tomou posse como nova titular da Cátedra José Bonifácio, no dia 12 de março. A cerimônia contou com a presença de representantes da Academia Brasileira de Letras, membros do corpo consular, dirigentes da Universidade, além de docentes, funcionários e alunos.

O diretor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) e coordenador do Centro Ibero-Americano (Ciba), Pedro Bohomoletz de Abreu Dallari, foi o primeiro a se pronunciar e fez uma breve explanação do trabalho que vem sendo desenvolvido na Cátedra, criada em 2013.

A Cátedra é uma iniciativa do Ciba, núcleo ligado à Pró-Reitoria de Pesquisa e ao IRI, que convida uma personalidade do mundo ibero-americano para ministrar atividades acadêmicas na Universidade durante um ano letivo.

Os convidados desenvolvem pesquisa na Universidade, na temática referente à sua especialidade. Além disso, são realizadas conferências abertas à comunidade e, até mesmo, específicas para docentes e discentes.

Em 2013, o ex-presidente do Chile, Ricardo Lagos, assumiu como o primeiro titular da Cátedra, que tratou do tema “O desenvolvimento da América Latina e a governança internacional”. Os artigos produzidos durante o período foram publicados na coletânea “A América Latina no Mundo”, lançada pela Editora da USP (Edusp) em março daquele ano.

Dallari destacou que a iniciativa vai ao encontro do plano de metas da Universidade, que tem, entre as ações previstas, o fortalecimento da colaboração com os países da América Latina, com a criação de redes acadêmicas e a consolidação da aliança da USP com a Universidad de Buenos Aires (UBA) e a Universidad Nacional Autónoma de México (Unam).

“Década dourada”

“Em 2013, a América Latina vivia a chamada ‘década dourada'”, afirmou Enrique Iglesias

O evento marcou a despedida do economista Enrique Iglesias, que esteve à frente da Cátedra durante o ano de 2014. Iglesias, que presidiu o Banco Interamericano de Desenvolvimento e a Secretaria Geral Ibero-americana (Segib), ministrou a conferência “Atualidade da América Latina: desafios e oportunidades”. Também foi lançado o livro “Os Desafios da América Latina no Século XXI”, coordenado pelo economista.

Iglesias deu início à sua apresentação fazendo um paralelo entre a situação da América Latina há dois anos, quando a Cátedra foi criada, e os dias atuais. “Em 2013, a América Latina vivia a chamada ‘década dourada’, marcada pelo crescimento econômico, melhoramento social, consolidação das democracias e redução da pobreza”, explicou.

Segundo ele, houve um “otimismo exagerado” com a economia na região, que chegou a registrar crescimento de 6,7% e agora deve alcançar o patamar de 1,5%.  “Temos um momento difícil, do ponto de vista político, em vários países. Alguns mais graves do que os outros, com perda de credibilidade das lideranças políticas. Mas, a democracia tem capacidade de reagir frente a essas circunstâncias e consolidar o que foi conquistado com tanto trabalho”, afirmou.

Iglesias concluiu sua apresentação enfatizando que “neste momento, recompor a confiança é fundamental e isso passa pela preservação dos valores culturais. Por isso, estou feliz com a posse da nova titular da Cátedra. A cultura é o ponto de encontro das aspirações, da felicidade e da criatividade”.

Após a conferência, o grupo “Jovens Cantores da USP”, ligado à disciplina de Canto e Arte Lírica do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA), fez uma exibição musical, sob a coordenação do professor Francisco Campos Neto.  O grupo é formado pelos cantores Camila Ribeiro, Ana Elisa Portes, Albert Santana, Marcela Rahal e Felipe Vidal.

Neste ano, o tema das pesquisas que Nélida irá coordenar será “O Imaginário Ibero-americano”

Matrizes culturais

A nova titular da Cátedra, a escritora Nélida Piñon, foi apresentada pelo professor aposentado da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), Alfredo Bosi, que ressaltou os prêmios literários internacionais com os quais a nova catedrática foi agraciada ao longo de sua carreira, dentre eles, o Prêmio Príncipe de Astúrias das Letras de 2005.

Nélida é formada em jornalismo pela Faculdade de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Em 1970, inaugurou a cadeira de Criação Literária na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É a quinta ocupante da cadeira 30 da Academia Brasileira de Letras (ABL), desde 1990. Em 1996, tornou-se a primeira mulher, em 100 anos, a presidir a ABL.

Neste ano, o tema das pesquisas que Nélida irá coordenar será “O Imaginário Ibero-americano”, que tratará tanto da literatura como de outros temas de cultura. “Eu quero examinar as matrizes culturais das Américas a partir da escritura. O ato de escrever, de registrar o mundo, a realidade, foi sempre essencial para nossa cultura. Há uma intensa oralidade no Brasil. A narrativa oral sempre foi forte no continente e isso tudo derivou em grandes romances, que vamos discutir. Vamos fazer um corte nessa narrativa, no pensamento constitutivo da América Ibero-Americana, que abraça também não só a América Latina, mas Espanha e Portugal, que estão na raiz dos fundamentos da nossa história”, definiu a escritora.

O encerramento da cerimônia foi marcado pelo pronunciamento do reitor da Universidade, Marco Antonio Zago. “Nessa transição entre catedráticos, passamos de um território em que a América Latina se debate, o da economia e da política, para outro que nos une, o da cultura. A diversidade da cultura representa um capital imenso para nos unir, e a Universidade deve utilizar esse instrumento como força de integração e desenvolvimento”, considerou.

(Fotos: Ernani Coimbra)


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