Artista independente, a estudante Yasmin Ferreira, 21 anos, que está no final do curso de graduação em Publicidade e Propaganda da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, começou a pintar durante a pandemia. Embora já fosse envolvida com outras artes – ela estuda violino desde os oito anos de idade, além de tocar violão e guitarra – a nova experiência com as artes plásticas a levou a refletir sobre as dificuldades enfrentadas pelos artistas que estão começando para entrar no seleto mercado de arte. Pensando nisso, Yasmin está lançando o projeto Fuzuê, uma galeria de arte digital que se propõe também a ser uma comunidade e uma plataforma voltada à democratização da arte.
A proposta da curadoria da Galeria Fuzuê é buscar artistas emergentes e pessoas racializadas que estão produzindo arte contemporânea e brasileira, colocando-as no circuito de feiras e exposições de arte. “Eu percebi que o sonho de todo mundo era participar de uma galeria, só que é muito difícil. Mesmo as galerias mais inclusivas ainda têm uma seleção que só dá espaço para você quando você consegue um reconhecimento lá fora”, diz a jovem.
A Galeria Fuzuê está iniciando suas atividades com a representação de quatro artistas. Uma das principais apostas é o mineiro Alison Rodrigues. O artista negro, que tem 23 anos, desenvolve seu trabalho em sua casa no interior de São Paulo. Sua pesquisa artística parte de uma problematização do conceito de “catecismo”, reinterpretando o processo de colonização e apagamento dos povos africanos no Brasil. Em suas obras, são frequentes as auréolas coroando pessoas negras. Além de denunciar a colonização, o intuito é também valorizar a história de resistência e gerar senso de pertencimento e admiração da beleza das pessoas pretas.
Os outros artistas que fazem parte da Fuzuê são Leila Zelic, artista não binária de 28 anos e estudante do bacharelado em Artes Visuais da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP; Luís Só, artista multimídia e cofundador da ocupação cultural Ouvidor 63, no centro de São Paulo; e o fotógrafo paraense Rao Godinho.
Além da representação dos artistas, a plataforma terá um lado voltado ao público que não faz parte do elitizado nicho de quem compra obras de arte. A ideia é fomentar uma comunidade digital de pessoas que curtem, produzem e estudam arte, com o lançamento de um blog e a produção de podcasts.
“Quando eu comecei a fazer essa pesquisa de entender como que funcionava vender arte, comprar arte, eu fui fazer algumas visitas [a galerias]. Chegando lá, você toca uma campainha! Está um silêncio, e algumas te oferecem uma água para você tomar, um ambiente meio frio, o ar condicionado ligado… Não é um ambiente que acolhe. Então a Fuzuê, mais do que vender as obras desses artistas e representá-los comercial e artisticamente, entra em uma de trazer mais para perto das pessoas o que é uma plataforma de uma galeria de arte”, diz Yasmin.
Atualmente, Yasmin toca o projeto sozinha e conta apenas com o apoio de alguns colaboradores free-lancers e não tem investimento externo. Os recursos para bancar a abertura da empresa, o site e a produção do conteúdo sobre os primeiros artistas representados vieram do dinheiro que Yasmin conseguiu juntar após ser efetivada em um estágio. Além de se dedicar à Fuzuê e aos trabalhos de conclusão do curso na ECA, Yasmin também trabalha como redatora publicitária em uma agência.
Yasmin espera que o projeto cause impacto social, tanto pelo apoio na venda das obras dos artistas no mercado de arte quanto por parcerias com as ONGs Olá Museu e Conexão Favela. Por meio dessas parcerias, a Fuzuê vai destinar 10% do valor de todas as vendas de obras de arte a essas duas ONGs.
“A Fuzuê, mais do que qualquer coisa, é um projeto de pensar no futuro. Eu acho que mais do que nunca a gente tem que mudar um pouco como a gente encara a forma de comprar arte”, diz Yasmin. “Pode dar muito certo ou pode dar muito errado. Eu estou trabalhando para dar certo”, afirma ela.