Memórias e reflexões são temas de peças do Teatro Laboratório da ECA

Espetáculos das Turmas 72 e 73 da Escola de Arte Dramática têm inspiração em filme sobre Hiroshima e tragédias gregas

 07/07/2023 - Publicado há 10 meses
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Cartaz de divulgação da peça Parto – Ifigênia em Aulis e As Troianas – Foto: Reprodução/Instagram – ECA

 

O Teatro Laboratório da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP apresenta, em julho, as peças Cenas para não esquecer e Parto – Ifigênia em Aulis e As Troianas. Os espetáculos são realizações das Turmas 72 e 73 da Escola de Arte Dramática (EAD), respectivamente, e podem ser conferidos pelo público de maneira gratuita.

“Dizem que antes do fim passa um filme curto em nossas cabeças, como se o cérebro fizesse uma espécie de curadoria de cenas que não podemos esquecer”, é o que escreve a equipe de Cenas para não esquecer na sinopse da peça. Até 16 de julho, é possível assistir ao espetáculo dirigido e dramatizado por Luiz Fernando Marques Lubi, em colaboração com os alunos da Turma 72. A peça tem codireção, videoarte, edição, captação e montagem de Paulo Celestino.

Luiz Fernando Marques Lubi – Foto: Arquivo particular

O enredo de Cenas para não esquecer surgiu a partir de uma pesquisa cênica, quando Lubi e os alunos estudavam a questão da tela, do cinema como presença e de como os atores e o público assistem às imagens projetadas. “A tela está sempre representando algo que já aconteceu, o filmado, o passado. Mas ao mesmo tempo, é possível presentificar essa experiência? Como é que a gente a presentifica e como ela se torna um impulso de vida, de reflexão e de pensamentos?”, questiona o diretor.

O objeto de estudo e a principal inspiração para a análise desses questionamentos foi o drama franco-japonês Hiroshima, meu amor (1959). Dirigido pelo francês Alain Resnais e ambientado na cidade de Hiroshima, no Japão, após o fim da Segunda Guerra Mundial, o filme apresenta a relação amorosa e as memórias compartilhadas entre uma atriz francesa e um arquiteto japonês. “O filme trabalha a ideia do que fazer depois da bomba, de como reconstruir uma cidade, se é possível esquecer aquilo, se é o caso de não falar ou olhar para aquilo de novo”, comenta Lubi, “nesse mesmo mote, refletimos sobre qual é a nossa bomba, o que já explodiu em nós ou o que explode todos os dias”.

Cada um dos 25 atores formulou a sua própria cena com base nessas reflexões e, agrupando essas criações, percebendo as similaridades e diferenças entre si, 12 cenas finais construíram o roteiro de Cenas para não esquecer. “E tinha um filme. Não, não tinha um filme. Era um teatro. E tinha uma cena com uma bomba de 1945. Era Hiroshima. Foi quando a bomba explodiu. Ali, a cinco metros de nós, bem na Praça do Relógio”, escreve a equipe na sinopse. Lubi explica que o que impulsiona o espetáculo é imaginar como seria se uma bomba explodisse na Praça do Relógio, que fica há cinco metros do Teatro Laboratório da ECA.

A experiência de trabalhar com um numeroso elenco, cujos integrantes vêm de uma geração mais nova e que teve contato com a pandemia durante a sua formação, foi algo inédito na carreira do diretor. Ele atenta para o fato de que a tela, tema trabalhado durante o desenvolvimento de Cenas para não esquecer, foi também um fator expressivo durante a pandemia.

Olhar sobre passado e memórias

O olhar sobre o passado e as memórias reinventado por questões contemporâneas também é retratado em Parto – Ifigênia em Aulis e As Troianas. A peça, que fica em cartaz até 16 de julho, foi idealizada pela Turma 73 da EAD e é uma releitura de duas tragédias do dramaturgo grego Eurípedes.

Nesta versão, as narrativas de Ifigênia em Áulis e As Troianas, que recriam o início e o fim da Guerra de Tróia, reforçam o espaço das mulheres na história. “Revisitar uma obra é lançar um olhar sobre ela, não como uma peça de museu, mas como matéria viva, que renasce a cada nova encenação, em diálogo com nossos dias”, comenta o diretor Kiko Marques. Em nossa montagem, criamos camadas de leitura pra algumas passagens e recriamos outras, sob o olhar da mulher contemporânea que não pertence a ninguém que não seja ela mesma”, complementa. 

A reflexão, a crítica e as relações entre seres humanos e o misticismo, com influência da mitologia grega, resultaram em “mitos cênicos eternos” escritos por Eurípedes, de acordo com Marques. A natureza e o místico, que marcam presença nas obras do dramaturgo grego, foram incorporadas pela equipe no espetáculo: pensando na relação entre o público e a narrativa, uma parte da apresentação será em local aberto. 

Cartaz de divulgação da peça Cenas para não esquecer – Foto: Reprodução/Instagram

 

Cenas para não esquecer, da Turma 72 da EAD, está em cartaz até o dia 16 de julho, de quinta-feira a sábado às 20 horas e aos domingos às 18 horas, no Teatro Laboratório da ECA (Sala Alfredo Mesquita, Prédio 8, Rua da Reitoria, 215, São Paulo, SP). Parto – Ifigênia em Aulis e As Troianas, da Turma 73 da EAD, está em cartaz até 16 de julho, às quartas, quintas, sextas-feiras e sábados, às 19h30, e aos domingos, às 18 horas, no Teatro Laboratório da ECA (Sala 25 e demais dependências do Prédio das Artes Cênicas, Prédio 8, Rua da Reitoria, 215, São Paulo, SP). A entrada é gratuita para ambas e a bilheteria abre uma hora antes do início dos espetáculos.

* Sob supervisão de Marcello Rollemberg.


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