O filme The Line (“A Linha”) recebeu o prêmio de Melhor Inovação em Programação Interativa na 72ª edição do Prêmio Emmy – a principal premiação na área da televisão atualmente no mundo -, realizada este ano virtualmente entre 14 a 19 de setembro.
O filme, produzido pelo estúdio Arvore, tem direção de Ricardo Laganaro, ex-aluno do curso de Comunicação Social da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, e conta com as ex-alunas do Curso Superior do Audiovisual, também da ECA, Mariana Brecht e Bárbara Framil na equipe de roteiro e design narrativo. O filme teve produção executiva de Ricardo Justus e Edouard de Montmort. The Line já tinha conquistado prêmios de melhor experiência em realidade virtual no 76º Festival de Veneza e no Kaohsiung Film Festival, e recebeu oficialmente a condecoração do Emmy no dia 17 de setembro.
A história de The Line se passa em uma maquete virtual da cidade de São Paulo durante os anos 1940, na qual o protagonista, o entregador de jornais Pedro, vive sua rotina diária repetidamente, visto que tudo na maquete opera em trilhos, inclusive os personagens. Essa rotina muda quando Pedro começa a colher uma flor de ipê-amarelo para entregar à florista Rosa, por quem está apaixonado, mas não tem coragem de se declarar pessoalmente.
Durante o filme, o espectador deixa de apenas assistir e se torna um agente no processo da narrativa, ajudando Pedro em suas atividades e a colher as flores de que sua amada tanto gosta. Um dia, porém, os ipês da cidade acabam, e o espectador que ajudou Pedro ao longo da narrativa tem que aprender a mudar os trilhos da cidade para alterar a rotina dos personagens e ajudar Pedro a encontrar a última flor, que se encontra no topo do Pico do Jaraguá, o ponto mais alto de São Paulo, localizado na zona oeste.
O diretor Ricardo Laganaro, que descreveu a experiência como uma “história corporificada”, explica como a narrativa se integra à tecnologia: “Esse é o tipo de interação que só pode acontecer em realidade virtual, porque usa o espaço físico e o corpo do usuário, que vira uma ferramenta para contar a história. O espectador ‘entra no trilho’, como os personagens, e quando acontecem os conflitos também tem que se esforçar e aprender a se mexer diferentemente, conforme a narrativa muda. Laganaro expressa, ainda, que essa ainda é uma área que precisa ser explorada. “Por enquanto ainda temos poucas boas histórias interativas sendo contadas em realidade virtual. Você tem experiências mais passivas, como vídeos 360, ou experiências sensoriais mais experimentais, que acabam sendo mais performances artísticas do que narrativas.”
Para assistir ao filme, é preciso utilizar óculos e controles de realidade virtual, e o movimento dentro do espaço virtual da narrativa é essencial para a progressão da história. “Você vê uma maquete numa bancada, e o filme acontece nesse espaço físico. Isso permite que você interaja no espaço virtual se movimentando no mundo real, e a experiência leva em conta todas essas questões de ergonomia e espaço. Em um momento, os personagens caem para debaixo da bancada, e você tem que se abaixar para encontrá-los lá”, conta Laganaro.
Para o diretor, o que fez The Line levar o prêmio foi “essa coesão entre interatividade e história através do corpo do usuário”, conta. “Essa foi a grande inovação, além de ser acessível. Disponibilizamos o filme em plataformas de realidade virtual para todo mundo poder ver, não só quem joga videogames com esse equipamento. É uma coisa que uma pessoa de 80 anos pode ver, interagir e se divertir”.
Uma produção brasileira ganhar essa premiação no Emmy tem grande importância para Laganaro, que sugere que o Brasil pode assumir a dianteira na produção do gênero. “A visão de que a realidade virtual é uma nova forma de arte está sendo legitimada. Ela é uma nova forma de contar histórias, e a indústria reconheceu isso com esse prêmio. E também quer dizer que nós, do Brasil, podemos ser líderes de tecnologia e inovação de conteúdo e entretenimento”, acredita.
“Estamos conseguindo fazer o mercado audiovisual brasileiro olhar para isso como uma nova área. Não é uma indústria paralela, uma moda, mas sim uma nova arte que a gente pode fazer”, diz o diretor, lembrando que essa premiação é uma oportunidade para as produções brasileiras penetrarem no mercado internacional. “É muito difícil abrir portas no exterior. Sendo reconhecido pelo prêmio do Emmy nos Estados Unidos muda a qualidade da conversa com as plataformas. Por um lado, na indústria tradicional ainda estamos bem atrás. Há uma diferença estrutural enorme quando se fala em investimento, mas na animação nós temos muito destaque, porque ainda temos um mercado mais artesanal. Já na questão da realidade estendida, não estamos atrás porque ninguém está tão à frente. Mas o barco está saindo, e não podemos deixar de acompanhar esse crescimento do mercado.”
The Line está disponível na plataforma de realidade virtual Oculus, em inglês e português. O filme pode ser acessado neste link. É necessário ter o dispositivo Oculus.
Assista no link abaixo ao trailer em português do filme The Line