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A perda de peso pode reduzir o risco de doenças no coração em pessoas obesas. A conclusão é de pesquisa realizada na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), com portadores de obesidade mórbida que passaram por cirurgia bariátrica no Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP. O trabalho do médico Acácio Fernandes Cardoso mostra que a redução de peso diminuiu a espessura da camada de gordura na superfície do coração (gordura epicárdica), o que melhorou o funcionamento do órgão, podendo evitar problemas futuros.
O médico afirma que, nos últimos anos, pesquisadores apontaram que o aumento da quantidade de gordura que envolve o coração foi associado a maior risco para o desencadeamento de algumas doenças cardiovasculares. Entre essas doenças estão a fibrilação atrial (arritmia cardíaca que pode provocar acidente vascular cerebral) e a doença coronariana (obstrução das artérias do coração que pode levar ao infarto agudo do miocárdio).
“Nos obesos, fatores de risco como hipertensão e diabete são muito comuns, e até então dificultavam a demonstração da gordura epicárdica de maneira isolada como marcador de risco para doenças cardíacas”, afirma o pesquisador. “Além disso, a influência do excesso de gordura epicárdica sobre a função do coração ainda não havia sido estabelecida. Por isso, a pesquisa avaliou portadores de obesidade mórbida que não tinham nenhum desses fatores.”
O estudo analisou 20 pacientes com obesidade mórbida e 20 com peso normal. “Os obesos que não apresentam fatores de risco cardiovasculares representam cerca de 20% a 30% do total de pessoas com obesidade mórbida”, aponta Cardoso. “Por meio da avaliação do eletrocardiograma foi medida a duração máxima da onda P, a qual reflete de forma indireta o tamanho dos átrios do coração.”
Alterações
Os pacientes obesos e saudáveis também passaram por avaliações clínica, laboratorial e por um ecocardiograma. “Este exame, que é o ultrassom do coração, avaliou a função cardíaca e a espessura da gordura epicárdica”, explica o médico. “Nos obesos, a duração máxima da onda P e o diâmetro do átrio esquerdo foram maiores e a função cardíaca foi menor do que nas pessoas sem obesidade. Todas essas alterações foram relacionadas a uma maior espessura da gordura epicárdica observada nos obesos mórbidos.”
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Na segunda etapa do estudo, os pacientes obesos foram submetidos a cirurgia bariátrica e acompanhados por um ano. “Eles passaram novamente pelo eletrocardiograma, avaliações clínica, laboratorial e o ecocardiograma”, relata Cardoso. “Além da perda de peso corporal, houve uma redução significativa da gordura epicárdica, que esteve associada a uma relevante diminuição da duração máxima da onda P e a uma melhora também considerável da função cardíaca.”
De acordo com o médico, a pesquisa comprovou que a espessura da gordura epicárdica é um fator importante relacionado com a condição de risco cardiovascular da população de obesos. “Ela pode colaborar para provocar alterações estruturais no coração que prejudicam seu funcionamento e podem influenciar no risco desses pacientes para o desenvolvimento de doenças cardíacas”, observa. “Uma vez que há redução de peso, a gordura epicárdica também diminui e essas alterações sofrem regressão, ou seja, há uma melhora.”
A diminuição de peso e da gordura epicárdica, segundo o pesquisador, podem trazer benefícios que precisam ser mais estudados, mas algumas observações já podem ser inferidas. “Ela pode reduzir o risco de alguns tipos de arritmia cardíaca, especialmente a fibrilação atrial, além de reduzir a chance de o paciente desenvolver insuficiência cardíaca”, conclui.
O estudo teve a colaboração do setor de Eletrocardiologia, da unidade de Cirurgia Bariátrica e do setor de Ecocardiografia do HCFMUSP. A pesquisa é descrita na tese de doutorado do médico na FMUSP, orientada pelo professor Marco Aurélio Santo. As conclusões do estudo também são apresentadas no artigo Epicardial fat thickness correlates with P-wave duration, left atrial size and decreased left ventricular systolic function in morbid obesity, publicado pela revista Nutrition, Metabolism & Cardiovascular Diseases em 1o de junho.
Mais informações: e-mail acacio.cardoso@hc.fm.usp.br, com Acácio Fernandes Cardoso