Vítimas de bullying podem ter reações extremadas

Segundo Sérgio Kodato, o grande desafio é entender porque diversas pessoas que sofrem com o bullying reagem de forma tão diferente a esse assédio moral 

 18/12/2023 - Publicado há 5 meses
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Muitas vítimas têm uma reação de raiva e vingança pelo fato de terem essa característica em si – CC0 Creative Commons
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O bullying está presente na vida de muitas crianças e adolescentes, principalmente em idade escolar. É uma fase de muita dor e angústia, que pode marcar a pessoa para o resto da vida. Existem inúmeras maneiras de reagir a esse tipo de agressão. Quem sofre bullying pode se fechar, entrar em estado depressivo, desenvolver algum tipo de transtorno. No entanto, há quem reaja de forma diferente, desenvolva sentimentos de ódio, vingança ou até mesmo de suicídio. O grande desafio é entender porque diferentes pessoas que sofrem com o bullying reagem de forma tão diferente a esse assédio moral. 

Sérgio Kodato – Researchgate

O psicólogo e docente da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP Sérgio Kodato explica que as pessoas descarregam suas raivas e tristezas em outras por serem mais vulneráveis. “São pessoas em situação de vulnerabilidade, fragilidade e autoestima negativa, que não conseguem reagir a esses eventos de agressividade e, assim, aumentam um sentimento de incapacidade. Elas pensam que deve ter alguma coisa de errado com elas para sofrerem esse tipo de violência.”

Kodato explica que as vítimas podem até conversar com os pais e a direção da escola em que estuda, porém, com a falta de ação para que essas agressões terminem ou ainda por medo de conversar com alguém, muitos buscam fazer justiça com as próprias mãos. “O que mais afeta é o fato de outras pessoas verem essas agressões e não ajudarem a vítima, até mesmo se posicionarem contra a agressão.”

O docente ressalta que muitas vítimas têm uma reação de raiva e vingança pelo fato de terem essa característica em si ou por passarem por um evento traumático, e não pela intensidade do bullying. “As vítimas de bullying podem ter traços de psicopatia, agressividade, com problemas de saúde mental, podem ter sofrido violência, rejeição ou abuso na infância e essas pessoas podem achar que merecem esse tipo de agressão ou que vieram ao mundo predestinadas a sofrer.”

O psicólogo afirma que vítimas com a autoestima baixa, na maioria das vezes, engolem toda violência sofrida e que a frequência dessa agressão pode levar a vítima a um processo de automutilação. “A dor do corte é maior do que a dor da rejeição, então parece que serve como uma espécie de anestésico. É um grau máximo de angústia e uma ausência total de apoio, seja de amigo ou seja de familiares, o que acaba levando, no desespero, a essa atitude drástica.”

Kodato explica os sinais que as vítimas podem dar antes de cometerem atos suicidas ou de massacres. “Em primeiro lugar uma mudança de hábitos, seja em termos de vestimenta, termos de frequência a determinados locais, podem descuidar do autocuidado ou em função de jogos violentos de videogame.”

Vítimas com a autoestima baixa, na maioria das vezes, engolem toda violência sofrida – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Ele acrescenta que pessoas com depressão ou com atos de massacres tendem a ter sinais mais perigosos. “Com relação ao serial killer, eles começam a adquirir armas e munições, estocar essas armas em casa e assim começar efetivamente a se preparar para uma vingança. Os propensos a suicídio podem se preparar para o ato de diversas formas e tudo isso também pode ser indicativo de um aumento no uso de drogas, álcool e outras substâncias ilícitas.”

Por fim, o psicólogo explica o que deve ser feito, caso as vítimas apresentem esses sinais. “Diante de quaisquer sinais de ação violenta a escola deve primeiro procurar o indivíduo que se prepara para isso, em segundo lugar é chamar os pais e, em terceiro lugar, buscar criar uma rede de apoio em volta dessa pessoa para prevenir o cometimento de atos violentos.” Para o professor, os pais têm papel fundamental nesse processo. Devem sempre conversar com seus filhos, investigar se eles sofrem ou não de bullying. “Os pais devem estar sempre atentos, porque muitas vezes o bullying provoca um sofrimento silencioso dos filhos,” conclui.

Prevenção nas escolas

O professor acrescenta informações que podem ajudar as escolas a prevenir possíveis massacres, com professores tutores em cada sala, para observar os alunos mais quietos e deprimidos, mecanismos de denúncias e resolução das situações em conflitos, podendo ser feitas por urnas, de modo anônimo, para a vítima não sofrer nenhum tipo de retaliação.

O psicólogo completa. “A escola pode adotar uma estratégia que tenha treinamento geral para os pais, alunos, funcionários e professores para a prevenção de bullying, além de canais de mediação, negociação e resolução desse problema. A escola teria que tomar o bullying como um problema sério.


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