“Série Energia”: A força da eletricidade está em sua versatilidade

De usinas industriais a dispositivos eletrônicos delicados, a sustentabilidade surge como fator de eficiência na conversão para outras formas de energia como luz, calor ou movimento

 Publicado: 05/04/2024
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As estimativas internacionais, incluindo projeções da Agência Internacional de Energia (IEA) e do BP Energy Outlook, antecipam um aumento significativo na eletrificação dos sistemas de energia globalmente. Essa tendência crescente não é aleatória, mas uma resposta direta às características intrinsecamente positivas da eletricidade, às suas vantagens logísticas e à sua versatilidade sem precedentes em uso e conversão. À medida que avançamos na transição energética e nos aprofundamos em um mundo cada vez mais digitalizado, compreender o papel central da eletricidade nesse processo é crucial, bem como reconhecer os desafios significativos que ainda precisam ser superados. 

Mas quais fatores levam a eletricidade a essa situação de destaque?

A busca pela eletrificação é impulsionada, em grande parte, pelas qualidades “nobres” da eletricidade. Como forma de energia, ela é notavelmente versátil, capaz de alimentar desde gigantescas usinas industriais até os dispositivos eletrônicos mais delicados. Sua eficiência na conversão para outras formas de energia, seja luz, calor ou movimento, é superior quando comparada às alternativas baseadas em combustíveis fósseis. Além disso, a sustentabilidade emerge como um dos seus atributos mais valorizados, com a geração de eletricidade através de fontes renováveis apresentando uma rota viável para reduzir significativamente as emissões de gases de efeito estufa. A participação das energias renováveis no mix global de eletricidade, por exemplo, está acima dos cerca de 30% e se aproxima de 50%, o que deve acontecer por volta de 2030.

Como se vê, a eletricidade desempenha um papel indispensável na transição energética, um esforço global para mover-se de um sistema energético dependente de combustíveis fósseis para um mais sustentável, seguro e justo. Nesse contexto, a eletrificação de setores chave, como o transporte, não apenas contribui para a redução das emissões de carbono, mas também para uma qualidade de ar melhorada e uma maior independência energética. Adicionalmente, no mundo digitalizado de hoje, a eletricidade é a espinha dorsal que suporta a infraestrutura crítica de dados e comunicações, alimentando tudo, desde centros de dados até redes de telecomunicações, e permitindo a conectividade global e o acesso à informação.

Contudo, apesar desses benefícios indiscutíveis e do impulso para a eletrificação, existem desafios formidáveis que precisam ser enfrentados. O custo da transição para sistemas de energia altamente eletrificados é substancial, exigindo investimentos maciços em infraestrutura, incluindo redes de transmissão e distribuição, bem como capacidades de armazenamento de energia. A integração de fontes de energia renováveis intermitentes, como solar e eólica, no grid apresenta desafios adicionais em termos de confiabilidade e estabilidade da rede.

Além disso, a demanda por materiais críticos, como os usados em baterias de íon-lítio e sistemas fotovoltaicos, está aumentando, levantando preocupações sobre a sustentabilidade da cadeia de suprimentos e o impacto ambiental da mineração desses recursos. Também há questões geopolíticas e de equidade a considerar, uma vez que a transição para uma economia mais eletrificada não deve agravar as desigualdades existentes ou criar novas formas de dependência.

Em suma, enquanto a eletrificação oferece um caminho promissor para uma transição energética sustentável e para suportar nossa crescente infraestrutura digital, ela vem acompanhada de um conjunto complexo de desafios. Estes desafios demandam soluções inovadoras, políticas cuidadosamente elaboradas e uma cooperação internacional robusta para garantir que os benefícios da eletrificação possam ser plenamente realizados sem comprometer a sustentabilidade ambiental, econômica e social.

A Série Energia tem apresentação do professor Fernando de Lima Caneppele (FZEA), que produziu este episódio com Murilo Miceno Frigo, discente de doutorado e professor do Instituto Federal do Mato Grosso do Sul (IFMS). A coprodução é de Ferraz Junior e edição da Rádio USP Ribeirão. Você pode sintonizar a Rádio USP Ribeirão Preto em FM 107,9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo no celular para Android e iOS.


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