O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP está desenvolvendo uma plataforma de telemedicina para orientar e trocar informações, principalmente, entre os profissionais de saúde na linha de frente do atendimento à covid-19. O sistema foi batizado de Join Covid.
A ideia, conta o professor da FMRP e infectologista do HC da FMRP Valdes Roberto Bollela, é coletar informações, através de formulários específicos, no local onde o paciente estiver sendo atendido, e disponibilizá-las num ambiente virtual para troca de experiências entre os que estão lidando com a nova doença. “Mesmo com o mundo se dedicando às pesquisas sobre o tema, no manejo dos pacientes no dia a dia, as equipes de saúde estão aprendendo na prática.” Bollela explica que, após a internação do paciente, o médico precisa tomar decisões em relação ao tratamento, à indicação ou não de terapia intensiva e “a maioria dos médicos, inclusive os infectologistas têm pouca experiência com esse problema; a covid-19 é nova e precisamos ter espaço e oportunidade para discutir com pessoas que tenham um pouco mais de experiência”, diz.
O ambiente virtual, criado pelo aplicativo, deve se concentrar mais no manejo dos casos confirmados e menos na triagem já que “os critérios para triar e internar um paciente com covid-19 são relativamente simples; são pacientes com falta de ar, com saturação de oxigênio (quantidade baixa de oxigênio no sangue), com febre persistente; isso a gente consegue rapidamente coletar informação e decidir”. O que ainda gera muita dúvida entre os médicos, segundo o professor, é “interpretar exames de radiografia de tórax, tomografia, como manejar um paciente desse se foi internado em CTI”.
Ao mesmo tempo que gera informações, importante na nova realidade da covid-19, a plataforma aproxima os menos dos mais experientes. O professor Bollela afirma que existe um grupo de médicos, especialmente infectologistas de terapia intensiva, que tem estudado bastante a doença. E a FMRP, adianta, possui um grupo desses. Assim, espera que a plataforma crie um ambiente que coloque esses médicos junto aos menos experientes, como plantonistas.
Bollela acredita que essa aproximação já esteja acontecendo nas instituições do Complexo de Saúde do HCRP, que internam pacientes com covid-19, como o Hospital Estadual de Serrana, SP, por exemplo. Se funcionar como imagina, será um espaço de interação, de tomada de decisão com mais segurança e de aprendizado. “Se todos acompanharem a discussão de cada caso, a curva de aprendizado será mais rápida.”
Plataforma é adaptação de sistema feito para o AVC
As bases para a criação do Join Covid vieram do sistema de telemedicina móvel para Acidente Vascular Cerebral (AVC), já validado no Brasil. Colaborador do projeto do AVC e colega do professor Bollela na FMRP, o professor Octávio Pontes Neto, que também coordena a Rede Brasileira de Pesquisas em AVC, é um dos parceiros do setor de infectologia do HCRP na adaptação da nova plataforma.
Os indivíduos com quadro agudo de AVC também se beneficiarão do aplicativo. Bollela explica que as informações coletadas ficam todas disponíveis num único ambiente e servirão para estudos, revisão de casos e “para entender o que diferencia os casos que confirmam covid-19 daqueles que não confirmaram, por exemplo. Além disso tudo, criamos naquele ambiente, que já existia previamente e que usa essa plataforma do AVC, uma ficha de triagem para os casos com suspeita de AVC”.
Bollela adianta que estão melhorando o software usado no AVC para coletar informações quanto à probabilidade desses pacientes estarem ou não com covid-19. A conduta, segundo o professor, ajuda no atendimento aos pacientes que já contam com o aplicativo para o AVC ao mesmo tempo que cria “o ambiente para manejo e discussão de casos específicos da covid-19, fora do contexto do AVC, todos usando uma mesma plataforma”, arremata.
O projeto que desenvolve a plataforma é resultado de parceria do HC-FMRP com uma empresa de tecnologia japonesa e apoio financeiro do governo daquele país. Depois de pronta, padronizada e testada, será disponibilizada para todo o complexo do HCFMRP. Já a disponibilização para outras instituições dependerá da empresa japonesa.
Ouça na íntegra entrevista com o professor Valdes Roberto Bollela no player acima.
Colaborou: Rita Stella