Demissões em massa estão sendo usadas como ferramenta de gestão

Segundo especialistas, boa parte das demissões em massa ocorre não para evitar crises financeiras, mas como resultado de estratégia gerencial da empresa

 28/03/2024 - Publicado há 8 meses
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Em 2024 já foram contabilizadas mais de 50 mil demissões no mundo – Foto: Pixabay/Mohamed_hassan

 

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O período da pandemia de covid-19 apresentou dezenas de problemas para a sociedade, desde a perda de entes queridos e a ansiedade de estar dentro de casa 24 horas por dia até o fechamento de empresas e o aumento no desemprego. Até hoje, muito dessa realidade ainda perdura. Segundo dados da Layoffs.fyi, empresa norte-americana especializada em contabilizar demissões em massa feitas ao redor do mundo, em 2024, até o momento, mais de 50 mil trabalhadores foram demitidos. Desse montante, mais de mil são brasileiros. Entretanto, o que especialistas apontam é que, em sua maioria, essas demissões são uma decisão de gestão e não para conter crises. 

Luciana Morilas – Foto: Linkedin

Para Luciana Morilas, professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, em muitos casos, essas demissões em massa – também conhecidas como layoffs – são uma estratégia de gestão, ou seja, não têm como objetivo realocar recursos ou cortar gastos para evitar uma crise financeira. “Não é nada relacionado com os trabalhadores, principalmente quando falamos em demissão em massa. É sempre uma estratégia gerencial da empresa”.

Somando os anos de 2022, 2023 e 2024 – toda a base de dados da Layoffs.fyi -, são mais de 475 mil trabalhadores demitidos ao redor do mundo; no Brasil, foram mais de 11 mil desempregados. A maioria das demissões, 330 mil, foi feita por empresas do ramo de tecnologia, o que pode significar, segundo Luciana, uma retração do setor após o crescimento na pandemia. “O que aconteceu na área de tecnologia em especial foi um reflexo da pandemia. Com o distanciamento social forçado que vivemos, houve uma grande expansão no setor”.

Tática não é recente 

Maria Hemilia Fonseca – Foto: Arquivo pessoal

Apesar dos dados da Layoffs.fyi serem limitados ao período pós-pandemia, os layoffs não são uma tática recente. Segundo o livro The Friction Project: How Smart Leaders Make the Right Things Easier and the Wrong Things Harder, escrito pelos professores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, Robert I. Sutton e Huggy Rao, as demissões em massa são uma realidade desde a década de 1970. Todavia, se naquele período apenas 5% das empresas que faziam parte do Top 100 Global da Forbes realizavam layoffs, em 2023, o número cresceu para 58% das empresas que fazem parte do ranking. 

Para Maria Hemília Fonseca, professora da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP) da USP, mais do que um movimento de gestão, há um efeito dominó de empresas menores repetirem o que empresas maiores estão fazendo. “Muitas vezes as empresas têm lucratividade, mas acabam, por uma dinâmica de mercado onde empresas maiores começam a despedir seus trabalhadores, realizando layoffs para acompanhar esse comportamento de mercado.” 

Mesmas palavras, significados opostos 

A palavra layoff tem significados diferentes em contextos distintos. No mundo dos negócios, o termo tem o mesmo sentido de demissão em massa, ou seja, é o cancelamento do contrato de trabalho de vários funcionários de uma vez; já para o Direito do Trabalho, a palavra é usada para se referir à suspensão temporária dos contratos de trabalho, evitando que os trabalhadores sejam demitidos. 

Segundo Luciana, essa tática foi muito usada para contornar uma crise econômica sem a necessidade de demissões. “Essa modalidade foi muito utilizada durante a pandemia de covid-19. Os contratos de trabalho ficaram suspensos durante um período, ou seja, o empregado não perdeu o emprego, mas o empregador não precisou pagar o salário durante aquele período de instabilidade.”

Demissões em massa não são bem vistas

Apesar dos layoffs serem feitos, em sua maioria, como uma ferramenta de gestão, segundo especialistas, Luciana afirma que há também outras razões para essas demissões. “Vários fatores acabaram influenciando: um crescimento do setor de forma desordenada e sem planejamento; a contratação de trabalhadores em locais distantes, que não podem ir ao trabalho de forma presencial; uma redução natural na demanda, em razão do retorno à normalidade, por exemplo.” 

Todavia, ela ressalta que, no Brasil, essas demissões em massa costumam ser revertidas caso os trabalhadores entrem na Justiça. “No Brasil, é comum que a Justiça do Trabalho reverta a demissão em massa, por entender que é abusiva. O entendimento é que a empresa assume o risco do negócio e que os trabalhadores não podem ser prejudicados em razão de uma estratégia desastrada da empresa”.

*Estagiário sob supervisão de Ferraz Junior


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