As causas da imunidade natural ao vírus da covid-19 ainda são desconhecidas

Não há garantias de que a imunidade se perpetue, devido às mutações que o vírus sars-cov-2 sofre ao longo do tempo

 Publicado: 29/04/2024
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Novo coronavírus sars-cov-2 – Foto: NIAD via Flickr (CC BY 2.0)
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Foram registrados no Brasil, desde o início da pandemia, mais de 38 milhões de pessoas com covid-19, com 710 mil óbitos. Os dados são do portal Coronavírus Brasil do Ministério da Saúde. Nesse cenário, foram realizadas inúmeras pesquisas sobre o vírus e a covid-19 e levantados os mais diversos dados. Mas o que não se sabe ainda é o número de pessoas que são imunes ao sars-cov-2.

“As doenças infecciosas têm um espectro clínico que varia desde a infecção assintomática até a infecção letal; assim é possível que uma boa parte das pessoas tenha se infectado, mas não tenha adoecido”, diz o infectologista Fernando Bellíssimo Rodrigues, professor  da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e coordenador do Núcleo de Vigilância Epidemiológica Hospitalar (NVEH) e do Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (Crie) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP.

Segundo Rodrigues existe uma predisposição genética de resistência ao vírus, resistência à infecção e resistência ao adoecimento, mas isso ainda não é muito bem compreendido pela ciência. “Nós não sabemos exatamente o que difere a genética de uma pessoa que se infecta e não adoece de outra pessoa que se infecta e morre.”

Para o professor, a genética de cada pessoa está por trás da relação com a doença. “Ela é geralmente mais grave em pessoas obesas e pessoas que têm doenças cardíacas. Mas a gente não sabe muito bem quais são os marcadores genéticos por trás disso e também nem todas as pessoas nessas condições vão ter doença mais grave, justamente porque tem a genética por trás.”

As pessoas que são mais resistentes ao vírus podem contribuir para o avanço da ciência, no desenvolvimento de medicamentos e mesmo de vacinas,  como aconteceu com o vírus da imunodeficiência humana (HIV). Décadas atrás a ciência descobriu que pessoas que tinham uma determinada mutação genética eram mais resistentes ao vírus. “Isso propiciou o surgimento de casos raros de cura do HIV. As pessoas que tinham a aids e também leucemia foram submetidas a um transplante de medula com um doador que tinha a mutação de resistência ao HIV.” 

Viradouro

Roberto Palma, farmacêutico na cidade de Viradouro, na Região Metropolitana de Ribeirão Preto, conta que não foi contagiado com a covid-19, mesmo vivendo a maior parte do dia em ambiente onde são realizados testes de covid-19. Palma afirma não ter desenvolvido a doença, apesar do contato próximo com pessoas infectadas. Palma diz que também já cuidou de familiares com covid-19 e não entende o fato de nunca ter sido infectado. “Não sei te explicar essa imunidade, porém acredito na proteção. Sempre utilizei máscara facial, álcool em gel, distanciamento e quando começou a vacinação busquei tomar a vacina.”

Covid-19

A covid-19 é uma doença provocada por infecção por um tipo de coronavírus,  que recebeu o nome de sars-cov-2, vírus extremamente habilitado em transmitir a doença de forma rápida e fácil. Surgiu em amostras obtidas de pacientes com pneumonia de causa desconhecida na cidade de Wuhan, na China, em dezembro de 2019. Em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde decretou a pandemia no mundo todo, o que trouxe o isolamento como principal forma de conter o avanço da doença. 

Principais sintomas

Os sintomas mais frequentes são febre, dor de garganta, calafrios, dor de cabeça, tosse, coriza, perda do paladar e olfato. Pacientes graves podem apresentar perda de apetite, pressão no peito, confusão, falta de ar, complicações neurológicas e alta temperatura (acima de 38°).

Prevenção

As formas de prevenção são: usar máscara facial, higienizar as mãos com álcool em gel, manter distanciamento ao falar com pessoas e preferir ambientes ventilados. Outra forma de se prevenir é tomando todas as doses da vacina disponibilizadas.

“As pessoas que nunca se infectaram também precisam se vacinar. Como o vírus sofre mutações, não há garantias que essa imunidade natural se perpetue contra todas as mudanças do vírus. Não existe nenhum marcador, nenhum exame que se possa fazer para confirmar que a pessoa é resistente ao vírus”, finaliza Rodrigues.

*Estagiário sob supervisão de Ferraz Júnior


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