“Estamos passando por uma epidemia de uma doença muito séria chamada coronavírus, covid-19. A cidade está perigosa para a transmissão dessa doença”, informava o boletim de áudio da Rede Wayuri, diretamente de São Gabriel da Cachoeira (AM), o município mais indígena do Brasil. Quatro anos depois do início da pandemia, o projeto Cosmopolíticas do Cuidado no Fim-do-Mundo reúne, no encontro inaugural da série Quinta(i)s Cosmopolíticos, parceiros e lideranças indígenas para trocar saberes sobre as estratégias de enfrentamento dos povos do Rio Negro durante a emergência da covid-19. O evento acontece nesta sexta-feira (19), às 16 horas, na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, com transmissão on-line.
Os Quinta(i)s Cosmopolíticos procuram aproximar a Universidade dos conhecimentos e saberes de pessoas que têm trabalhado com saúde e cuidado longe dos holofotes da saúde pública. O primeiro encontro de saberes da série marca o Dia dos Povos Indígenas e conta com a presença especial de duas pesquisadoras e lideranças indígenas, além do lançamento de três produções do Instituto Socioambiental (ISA).
As convidadas do dia são a antropóloga e liderança Francineia Fontes (Francy Baniwa), do povo Baniwa, e a socióloga e liderança Elizângela Costa (Elizângela Baré), do povo Baré. Francy é pesquisadora associada ao projeto Cosmopolíticas e uma das titulares da Cátedra Olavo Setubal do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP.
Elizângela é doutoranda direta do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da FSP e pesquisadora vinculada ao projeto. Durante a pandemia, ela esteve na linha de frente das ações de enfrentamento à covid-19, liderando o Departamento de Mulheres Indígenas do Rio Negro, ligado à Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN).
Lançamentos relembram o cenário pandêmico do Rio Negro
A região do rio Negro é uma das mais preservadas da Amazônia. Lá se localizam os municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos, onde vivem cerca de 750 comunidades com povos de 23 etnias diferentes. Em um contexto marcado pela omissão do Estado, turbulências políticas e centenas de milhares de mortes em todo o Brasil, as comunidades indígenas da região do médio e alto Rio Negro, no Amazonas, lançaram mão de estratégias de resistência e colaboração para fazer o enfrentamento à covid-19 e preservar vidas.
Durante a pandemia, os indígenas tiveram risco quatro vezes maior de se infectarem do que as pessoas brancas. O dado foi um dos principais resultados do projeto de pesquisa Epicovid-19 BR, coordenado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que teve como objetivo analisar a prevalência do SARS-Cov-2 no País.
Os três lançamentos do ISA no evento da FSP integram a coleção Memoráveis, que parte da perspectiva de que não é possível deixar de lembrar da crise sanitária da covid-19, especialmente quando a emergência climática e o modelo de desenvolvimento atual nos colocam permanentemente sob risco de novas epidemias.
Parceria do ISA com a FOIRN, a quinta edição da Aru, revista de pesquisa intercultural da bacia do rio negro, Amazônia, traz textos com autorias indígenas e não indígenas. Elizângela Baré é autora de um dos artigos da Aru, intitulado “A saúde indígena pelo olhar de uma mulher Baré”.
Outro lançamento é o do podcast A Nova Doença dos Brancos, parceria do ISA com o Museu Etnográfico de Berlim. Em uma das entrevistas do podcast, Francy Baniwa narra como os mais velhos de seu povo vivenciaram outras epidemias.
Já o minidocumentário Cura, dirigido pelo documentarista Christian Braga e pela jornalista Juliana Radler, é um registro do cenário pandêmico do Rio Negro, retratando como indígenas e profissionais de saúde trabalharam junto aos povos da região, unindo práticas tradicionais e os recursos da medicina para salvar vidas. Assista a seguir:
Encontros de saberes
Os Quinta(i)s Cosmopolíticos são espaços-momentos de encontros de saberes do projeto em andamento Cosmopolíticas do Cuidado no Fim-do-Mundo. O primeiro encontro é voltado à parcela temática do projeto que tem o Rio Negro, o gênero e a saúde como foco. As próximas edições dos Quinta(i)s serão dedicadas às demais frentes de pesquisa do projeto.
O projeto de pesquisa Cosmopolíticas do Cuidado no Fim-do-Mundo: Gênero, Fronteiras e Agenciamentos Pluriepistemológicos com a Saúde Pública é coordenado pelo professor José Miguel Nieto Olivar, do Departamento de Saúde e Sociedade da FSP, com a participação de docentes e estudantes de outros departamentos e universidades.
O objetivo do projeto é apresentar experiências e possibilidades de composição de futuros mais plurais para a saúde pública, tendo como ponto de partida conhecimentos de grupos historicamente considerados vulneráveis, estigmatizados e/ou marginalizados dos debates das políticas públicas, além de agentes dos campos da saúde em seus diversos âmbitos e planos. O projeto tem apoio do programa Jovem Pesquisador – Fase 2 da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Serviço:
Quinta(i)s Cosmopolíticos
Quando: sexta-feira, 19 de abril de 2024, a partir das 16 horas
Onde: Anfiteatro Paula Souza – Faculdade de Saúde Pública da USP – Av. Dr. Arnaldo, 715 – Cerqueira César, São Paulo. Próximo ao Metrô Clínicas.
Com transmissão ao vivo pelo canal www.youtube.com/@cpasmenosum