Biblioteca Brasiliana da USP possui obra que marca a literatura infantojuvenil nacional

No acervo da BBM Digital, o público pode baixar, gratuitamente, o fac-símile feito em 1982 da 1ª edição de “A menina do narizinho arrebitado”, 1920, de Monteiro Lobato

 Publicado: 24/04/2024
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1ª edição de A menina do Narizinho Arrebitado, 1920, de Monteiro Lobato – Reprodução: Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin da USP

18 de abril é o Dia Nacional do Livro Infantil, data criada pela Lei nº 10.402, de 2002, porque nesse dia nasceu o escritor Monteiro Lobato (1882-1948), considerado o pai da literatura infantil brasileira.

A menina do Narizinho Arrebitado, publicada alguns dias antes do Natal de 1920, é a primeira obra escrita especialmente para o público infantojuvenil de Monteiro Lobato. Ela é emblemática, tanto por ser a primeira da série ambientada no Sítio do Picapau Amarelo – um divisor de águas na história da literatura para crianças no Brasil – quanto por representar um impulso na difusão de livros e na própria indústria editorial do País.

A Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP possui um fac-símile (reprodução) desta edição e o disponibiliza, gratuitamente, pela sua Biblioteca Digital (BBM Digital). Essa reprodução, fora de comércio, foi lançada em 1982, em razão das comemorações do centenário de nascimento do escritor, patrocinada pela empresa Metal Leve – indústria brasileira fabricante de autopeças, fundada por José Mindlin (doador do acervo que deu origem à BBM), em 1951, e vendida em 1996.

Para a reprodução, a Metal Leve contou também com o empréstimo do exemplar da edição original da Biblioteca Infantil Monteiro Lobato, da Prefeitura Municipal de São Paulo; da família do escritor, a qual autorizou a edição; e do escritor Francisco de Assis Barbosa, da Academia Brasileira de Letras, autor do ensaio que acompanha o texto de NarizinhoMonteiro Lobato e o direito de sonhar, um diferencial desta edição de 1982. 

Capa do livro Narizinho Arrebitado, de Monteiro Lobato, ilustrações de Voltolino, 1921. Acervo Magno Silveira – Arte: Feliza Santos/BBM-USP

 

Capa dura e ilustrada

A primeira edição de A menina do Narizinho Arrebitado foi feita com capa dura, em grande formato, impressa em quatro cores, na cidade de São Paulo. Nas suas 43 páginas, apresentava desenhos de um conhecido ilustrador: Voltolino, pseudônimo de João Paulo Lemmo Lemmi (1884-1926).

Ela apresentava uma novidade porque a história era vivida por uma protagonista bem brasileira: “uma menina morena, de olhos pretos como duas jaboticabas”, a despeito da capa, que a retratava como loira. Morando em um sítio com duas mulheres já idosas – sua avó e tia Anastácia – ela vive aventuras na companhia de sua boneca de pano, a “excelentíssima senhora dona Emília”.

O autor também inovava ao descrever uma natureza muito próxima à da criança brasileira: é à sombra de um velho ingazeiro que a protagonista alimenta piquiras, guarus, lambaris e parapitingas, todos habitantes do Reino das Águas Claras. As peripécias de Lúcia se desenrolam nesse ambiente em que aranhas tecelãs costuram deslumbrantes vestidos, aerogrilos fazem as vezes de aviões e caramujos são médicos consagrados.

A estratégia de lançar livros e álbuns para crianças na primeira quinzena de dezembro era bastante utilizada tanto no Brasil quanto nos países europeus. Editores aproveitavam, assim, o costume de presentear as crianças por ocasião do Natal e da Festa de Reis. O álbum ilustrado A menina do Narizinho Arrebitado era, para os padrões da época, um excelente presente, escrito por um autor consagrado e ilustrado por  um dos mais conhecidos caricaturistas de São Paulo. O formato grande e colorido valorizava ainda mais a publicação.

No momento do lançamento, Lobato já deveria estar pensando em como continuar sua narrativa, e também em alcançar outros segmentos de público – afinal, dois meses depois do lançamento do álbum ilustrado, em fevereiro de 1921, apareceria o volume Narizinho Arrebitado. Com uma materialidade muito diferente da do álbum ilustrado, trazia a primeira história de Narizinho e continuava a aventura acrescentando-lhe duas outras partes. Publicado em papel de qualidade mais precária, também ilustrado por Voltolino, mas sem as cores, tinha um formato menor do que o álbum.

Capa de Augustus para Reinações de Narizinho, 1947 – Arte: Feliza Santos/BBM-USP


Exposição

Em 2021, na semana do aniversário de Monteiro Lobato, a BBM lançou a exposição virtual Uma menina centenária – 100 anos de Narizinho Arrebitado, produzida para celebrar o centenário do livro citado acima e que apresenta, em imagens e textos, a trajetória do escritor, o nascimento da personagem Narizinho e outras informações e curiosidades.

O site da exposição é rico em fotos, cartas de crianças leitoras, ilustrações do cartunista Voltolino e imagens de livros que compõem a história pessoal e profissional de Monteiro Lobato, como a capa de outras edições da obra A menina do Narizinho Arrebitado. Além disso, uma seção específica também é dedicada a discutir sobre questões de racismo na vida e obra do autor.

A exposição foi pensada para ser exibida fisicamente e teria sido inaugurada em novembro de 2020, mas foi alterada por causa da pandemia da covid-19. Como parte das mudanças, a organização procurou transpor suas linhas mestras para uma apresentação virtual, reproduzindo uma pequena parte dos documentos que planejava expor nas vitrines.

A mostra tem curadoria das professoras e pesquisadoras Gabriela Pellegrino Soares e Patrícia Tavares Raffaini, respectivamente, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e do designer, colecionador e pesquisador da obra de Monteiro Lobato, Magno Silveira.

Logo da exposição virtual permanente da BBM: Uma menina centenária, lançada em 2021

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