“Agropeça” apresenta o Sítio do Picapau Amarelo em arena de rodeio

Espetáculo do Teatro da Vertigem reflete sobre a influência do agronegócio na sociedade brasileira

 17/05/2023 - Publicado há 11 meses
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Personagens do Sítio do Picapau Amarelo na Agropeça – Foto: Divulgação/Lígia Jardim

 

Os personagens do Sítio do Picapau Amarelo saem das páginas de Monteiro Lobato para entrar em uma arena de rodeio na Agropeça, agora em cartaz no Sesc Pompeia, em São Paulo. O espetáculo comemora 30 anos da companhia Teatro da Vertigem. Antônio Araújo, professor do Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e diretor do grupo, é quem concebeu a peça. O texto original é de Marcelino Freire. 

Ao longo de 120 minutos, a peça aborda as interações da sociedade brasileira com o agronegócio, representado pelo rodeio de touros. Pedrinho, Tia Nastácia e Emília, respectivamente, fazem a narração dos três blocos que organizam a apresentação. O rodeio é inserido na história durante o prólogo, quando Pedrinho sugere realizá-lo aos outros personagens.

A ideia de criar um diálogo entre o Sítio e o reacionarismo do Brasil atual surgiu durante o processo de criação da peça. Araújo conta que Monteiro Lobato esteve presente desde o início, quando a companhia estudou o personagem caipira Jeca Tatu. Em um segundo momento, improvisações em torno da Emília foram feitas e a ideia de mergulhar nesse ambiente rural surgiu. 

A personagem Emília na Agropeça – Foto: Divulgação/Lígia Jardim

 

“Nós identificamos no Sítio do Picapau Amarelo uma visão de país que o Monteiro traz. Esse universo do Sítio tem um projeto de país embutido nele”, explica o diretor. O resgate desse mundo, no entanto, é feito com um olhar crítico. “No começo, a gente tenta ser o mais fiel à obra de Monteiro Lobato e, ao longo da peça, a gente vai revisitando os personagens à luz de questões atuais, como o racismo de Dona Benta”, complementa Araújo.

O Teatro da Vertigem é conhecido por encenar suas peças em locais não convencionais, como hospitais e igrejas. Desta vez, o público entra em uma arena de rodeio construída no galpão do Sesc. A recriação do lugar também tem significado. “Construir um espaço de rodeio que pareça de verdade, mas é de mentira, interessa para essa discussão do País em que a gente está hoje, em que não se sabe o que é verdade e o que é mentira”, conta Araújo.

Cena do espetáculo Agropeça, do Teatro da Vertigem – Foto: Divulgação/Lígia Jardim

 

O espetáculo não foi planejado para celebrar os 30 anos da companhia. A pandemia de covid-19 e dificuldades para obter financiamentos através de editais públicos atrasaram a realização da peça.

Abordar o espaço rural e o agronegócio foi uma ideia que Araújo teve no final de 2018. “Minha vontade apareceu nesse período da ascensão de Bolsonaro e, depois, com a eleição dele em 2019, eu falei: ‘Precisamos visitar esse universo’. E foi aí que veio a ideia de olhar pela estrutura de um rodeio”, detalha. 

O espetáculo Agropeça está em exibição no Sesc Pompeia (Rua Clélia, 93, Lapa, em São Paulo). A temporada vai até 11 de junho, com apresentações de quarta-feira a sábado, às 20 horas, e domingos e feriados, às 17 horas. Os ingressos podem ser adquiridos no site do Sesc e nas bilheterias de unidades do Sesc SP. Classificação indicativa: 14 anos. Mais informações estão disponíveis no site do Sesc.


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