O professor Ricardo Bento, diretor da Divisão de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FM) da USP, foi convidado a integrar a Lancet Commission for Global Hearing Loss (Comissão Global Lancet para Perda Auditiva). Trata-se da maior iniciativa conjunta com a Organização Mundial da Saúde (OMS) para prevenção, tratamento e reabilitação da surdez já realizada no mundo. Durante três anos, serão desenvolvidas estratégias de políticas públicas de prevenção, tratamento e reabilitação da surdez, nos três níveis de atendimento: primário, secundário e terciário. O Jornal da USP no Ar conversou com Ricardo Bento sobre a importância da iniciativa.
Em pesquisa realizada pela OMS, de 2013 a 2015, a surdez ocupou o quarto lugar na lista de doenças. Ela é considerada a primeira deficiência com mais impacto no índice de qualidade de vida da população, mais do que deficiência visual, de locomoção e outras 345 doenças. Isso levou a OMS a colocá-la como uma de suas cinco prioridades para este século. O professor Bento comenta que a revolução da longevidade é um fator que contribui para a relevância da surdez. Uma população mais velha implica perda natural de audição, explica o especialista. Outro fator é o impacto do trauma acústico, que pode acarretar lesões permanentes. Fones de ouvido, lugares barulhentos ou com grande ruído são os grandes vilões, e a população mais jovem, as maiores vítimas, justamente por sua predisposição ao uso de fones de ouvido.
A comissão desenvolvida pela OMS, em parceria com a Lancet, importante revista científica, desempenha um importante papel na prevenção e tratamento da surdez. A linha de pesquisa é voltada ao desenvolvimento de ações práticas que serão sugeridas aos países filiados à OMS. O professor Bento aponta que a informação é a chave para a prevenção. O conteúdo deve chegar não apenas ao paciente, mas, também, ao médico e profissional da saúde que presta atenção básica, como o pediatra.
O professor relata que a legislação brasileira é competente. O Sistema Único de Saúde oferece aparelhos de audição gratuitamente, bem como o implante coclear, para pacientes com surdez total. A maior ressalva é a velocidade com que o paciente deve procurar auxílio médico: “O mais rápido possível”, enfatiza Bento. O médico lembra que escutamos pelo cérebro, sendo o ouvido um órgão periférico que transforma a energia mecânica, proveniente da vibração do som, em energia elétrica, que será interpretada pelo cérebro. Um tratamento muito tardio pode não ser bem-sucedido, pois o cérebro perde a capacidade de interpretação quando fica muito tempo sem receber estímulo.