Um estudo publicado recentemente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em conjunto com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alerta que muitos países falham em proteger mães e recém-nascidos da desinformação sobre a amamentação.
O documento destaca a importância do aleitamento para a saúde das mulheres e dos recém-nascidos. Segundo o relatório, além da desinformação, o isolamento provocado pela pandemia e o marketing abusivo incentivam a substituição do leite materno.
Flávia Gomes-Sponholz, professora do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem em Saúde Pública e integrante do Núcleo de Aleitamento Materno (Nalma), ambos da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, destaca que, em situações normais, o leite materno não deve ser substituído por fórmulas infantis e outros produtos semelhantes.
“No peito o bebê tem tudo que ele precisa, não somente o alimento, mas também o aconchego, o calor e o olhar da mãe”, afirma. É importante que a amamentação seja uma escolha da mulher, essa não deve ser uma prática imposta. Os substitutos devem ser utilizados somente nos casos em que a mãe não seja capaz de amamentar. “É uma decisão que, embora difícil de ser tomada, é muito fácil o acesso aos produtos que substituem o leite.”
O relatório da OMS e do Unicef questiona os casos em que, mesmo em condições, as mães optam pelos substitutos por pressões externas de familiares, agentes de saúde ou mesmo pelo marketing agressivo. Um dos objetivos do estudo é justamente incentivar a amamentação e a regulamentação dos produtos destinados aos recém-nascidos.
O Brasil, além de signatário do Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno, segue a Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e Crianças de Primeira Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras (NBCAL). Entretanto, Flávia conta que o histórico do aleitamento no País não privilegiou essa prática. “A mulher precisa do apoio da família, do pai do bebê, da sociedade e também do Estado. Precisa que as leis que resguardam a amamentação sejam cumpridas”, afirma a professora.
Benefícios da amamentação
O incentivo à amamentação por parte dos órgãos e dos especialistas se deve aos inúmeros benefícios tanto para as mulheres quanto para os bebês. “É o alimento considerado internacionalmente como padrão ouro, porque ele supre todas as necessidades nutricionais, desde o nascimento até o sexto mês de vida, de forma exclusiva”, explica Flávia. Em sua composição, o leite inclui, além de nutrientes, anti-inflamatórios e anticorpos. A OMS destaca que bebês que não são amamentados têm até 14 vezes mais chances de morrer, por exemplo.
No caso das mães, os benefícios incluem a redução do risco de desenvolver câncer de mama e diabete, além de amenizar alguns efeitos do pós-parto. Há ainda um caráter emocional: “O aleitamento materno estimula o vínculo afetivo entre a mãe e o bebê”, conta a professora.
Flávia orienta que os recém-nascidos sejam amamentados na primeira hora de vida. Depois, a mãe deve continuar oferecendo o peito em livre demanda e de forma exclusiva até o sexto mês de vida. “De forma exclusiva significa leite do peito sem outro alimento, sem água, sem chá, sem suco, sem absolutamente mais nada”, explica a professora. “Livre demanda é sempre que a mãe desejar oferecer o peito e sempre que o bebê desejar mamar.” A partir de seis meses e até dois anos ou mais, a mulher deve continuar oferecendo o peito, mas também complementar essa dieta com outros alimentos.
Para que a amamentação possa acontecer da forma ideal, é importante garantir a proteção, promoção e apoio à mulher. A professora cita pesquisas que indicam que, nessas condições, as taxas de amamentação aumentam, ao mesmo tempo em que a probabilidade de interromper esse processo diminui. “O aleitamento materno é muito importante, mas requer uma dedicação também muito grande. O bom disso tudo é que vale muito a pena.”
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