Obesidade em crianças terá crescimento muito alto até 2035

Segundo Manoel Carlos Prieto Velhote, hoje já se sabe que a obesidade infantil é exatamente igual à obesidade do adulto, mas os impactos advindos dessa condição podem não ser percebidos de imediato, apesar de sua gravidade

 22/06/2023 - Publicado há 10 meses
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Pelo cálculo do Índice de Massa Corpórea (IMC) é possível medir o grau de obesidade de uma pessoa – Foto: Freepik

 

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Um estudo feito nos Estados Unidos e publicado na Jama Network mostra que pediatras têm recomendado cirurgias bariátricas e medicamentos para a perda de peso de crianças e adolescentes. A medida faz parte das novas diretrizes publicadas pela Academia Americana de Pediatria, que não sugeria uma mudança como essa há cerca de 15 anos. As recomendações, no entanto, precisam passar por algumas etapas, como entrevista motivacional, comportamento de saúde intensivo e tratamento de estilo de vida, farmacoterapia e cirurgia metabólica e bariátrica, além de investigar outros fatores sobre a saúde da criança, ambiente familiar, espaço onde vive e muitos outros. 

Segundo Manoel Carlos Prieto Velhote, médico do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, a decisão pode ter sido tomada pela gravidade da obesidade e o aumento da atenção a essa doença na infância: “Hoje em dia se sabe que a obesidade infantil é exatamente igual à obesidade do adulto. Tem comorbidades, tem doenças metabólicas associadas, hipercolesterolemia, alteração em todo sistema vascular, desenvolvimento de diabete, problemas ortopédicos”. 

Impactos como esses podem não ser percebidos de imediato, o que pode criar a ilusão de que a obesidade naquela criança ou adolescente é menos grave do que a obesidade em um adulto: “Você olhando um adolescente gordo, você não vê ele na iminência de uma morte recente, precoce”, diz Prieto. Segundo a nova edição do Atlas Mundial da Obesidade, divulgado pela Federação Mundial de Obesidade, o crescimento anual da obesidade em crianças até 2035 será de 4,4%, número classificado como “muito alto” pelo Atlas. O crescimento nos adultos, em comparação, será de 2,8%, considerado “alto”.

As cirurgias

Manoel Carlos Prieto Velhote – Foto: Arquivo Pessoal

Pelo cálculo do Índice de Massa Corpórea (IMC) é possível medir o grau de obesidade de uma pessoa. O IMC acima de 30 já indica obesidade e de 35 a 40, obesidade mórbida. “Um adolescente com mais de 35, no médio prazo, vai ter um controle da obesidade praticamente zero.” Em casos como esses, as cirurgias bariátricas e metabólicas são consideradas pela comunidade médica. Mas a indicação é feita especialmente para adolescentes de 16 a 18 anos: “Essa indicação começou a ser aceita para adolescentes de 16 a 18 em serviços cujo compromisso era de fazer um estudo completo, de acompanhamento completo e publicação desses resultados”, explica Prieto.  

Por não existir uma regra única, as indicações podem variar por diversos fatores: “Não existe consenso, mas em países avançados e preocupados com regulamentação, acima de uma determinada idade, por exemplo, 15 ou 16 anos, eles aceitam os mesmos critérios de indicação cirúrgica para adultos. Num adolescente de 15 anos com IMC de 40, por exemplo, você sabe que o tratamento clínico para ele não vai dar certo e a indicação é de cirurgia”. Prieto explica que, abaixo dessa faixa de idade, existe a possibilidade do trabalho multidisciplinar com endócrino, psicólogo, psiquiatra e fisioterapeuta para a elaboração de outros tipos de tratamento que dispensem a cirurgia, mas que o grupo deve chegar a um consenso. 

“O Instituto da Criança se liberta um pouco dessa limitação de 15, 16 e 18 anos. A gente tem tratamento da obesidade com um grupo multidisciplinar para tentar resolver o problema nessa faixa de idade, de tal maneira que o grupo, decidindo que tem uma criança de 13 anos que a chance de tratamento clínico é praticamente nula e as consequências dessa obesidade são suficientemente graves, sendo consenso do grupo, eu posso indicar os procedimentos mais adequados para uma criança fora dessa faixa de idade.” 

Fatores ligados à obesidade 

Deborah Patah Roz – Foto: Arquivo Pessoal

A obesidade é multifatorial e pode resultar de hábitos alimentares, sedentarismo, doenças genéticas ou metabólicas, além de questões psíquicas e emocionais. Essas últimas, na experiência de Deborah Patah Roz, diretora do Serviço de Psicologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, podem ser abordadas com a ajuda da família. “A gente vai tentar trabalhar com os pais questões entrelaçadas com os sintomas de compulsão alimentar do seu filho. Escutando as crianças e adolescentes nós vamos tentar ajudá-los a compreender que lugar o ato de comer foi ocupando na sua estruturação psíquica e consequentemente na sua relação com o outro.”

O tratamento pode ser adaptado, a depender da faixa etária da criança: “Esse processo [a abordagem psicológica] é conduzido pelo psicólogo através de material lúdico, no caso das crianças que ainda têm pouco recurso de expressão verbal, e da produção oral dos pacientes crianças e adolescentes”, diz a psicóloga. 


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