Exploração subterrânea do sal-gema utilizado pela indústria química pode trazer danos ao meio ambiente

Pedro Luiz Côrtes explica que há uma grande espessura de rochas sobre as cavernas onde antes existia o sal-gema e esse sistema pode entrar em colapso, o que ocorreu em parte da área em Maceió explorada pela Braskem 

 08/01/2024 - Publicado há 4 meses     Atualizado: 30/01/2024 as 9:56
Por
O sal-gema é encontrado em jazidas subterrâneas – Foto: Tawatchai/Freepik via Agência Brasil

 

O sal-gema é o cloreto de sódio, conhecido popularmente como sal de cozinha, que também pode ser usado na indústria química e é retirado de rochas subterrâneas. Diferentemente do sal de cozinha comum, extraído do sal marinho, o sal-gema é utilizado para a produção de soda cáustica e é fonte de cloro para produzir tubos de PVC. 

Em Maceió, a companhia de mineração Braskem realizou a extração do sal-gema que ocasionou rachaduras no solo. Com isso, foi iniciado o processo de evacuação de algumas cidades e o encerramento das atividades das minas. Foram criadas algumas espécies de “cavernas” no solo, o que o deixou instável e, por isso, foram relatados tremores nas regiões afetadas pela extração do mineral. 

O geólogo e professor do Instituto de Geociências (IGc) da Universidade de São Paulo Pedro Luiz Côrtes explica que, no caso específico da Braskem, o sal-gema é encontrado em aproximadamente 900 metros de profundidade em uma camada com cerca de 300 metros de espessura, que foi gerada em um antigo ambiente marinho pela deposição lenta e cumulativa do sal. 

Pedro Luiz Côrtes – Foto: Lattes

No caso da Braskem, a mineradora fez poços que chegam até essa camada e passou a injetar água a uma grande pressão, essa água vai dissolvendo o sal e formando uma salmoura que é coletada e processada industrialmente para a separação do sódio e do cloro, explica o especialista.

“Então é um poço onde, na porção central, há uma tubulação pela qual a água é injetada e nas laterais dessa tubulação a água é coletada com o sal dissolvido para o processamento industrial.”, acrescenta Côrtes. 

Extração do sal-gema

O professor discorre que esse tipo de extração gera vazios – espécies de cavernas – onde antes existia a camada de sal-gema. Ele ainda acrescenta que, como há uma grande espessura de rochas sobre essas cavernas (cerca de 900 metros de rochas), esse sistema pode entrar em colapso, o que ocorreu em parte da área em Maceió. 

“As rochas que ficam sobre a camada de sal- gema são de origem sedimentar e não têm grande capacidade de autossustentação, por isso a ocorrência desses colapsos ou abatimentos, e isso é sempre um risco considerável à medida em que a extração de sal-gema vai avançando e esses grandes vazios vão sendo criados a grande profundidade,” explica o geólogo. 

As rochas sedimentares são formadas através da deposição e junção de outros tipos de rochas, sendo elas ígneas, metamórficas ou até mesmo sedimentares. Esse tipo de rocha costuma ser porosa, o que permite que tenha acumulação de água no seu interior. Além disso, por conta dessa característica, não há sustentação desse material ao solo. 

Sal-gema no Brasil 

Cloreto de Sódio – Foto: Reprodução/Pixabay

 

Embora o maior caso conhecido de reservas de sal-gema seja em Maceió, existem outras regiões do Brasil que possuem esse mineral. Entretanto, há uma relutância sobre a exploração desse tipo de sal devido ao dano que sua extração pode ocasionar, explica Côrtes. 

“No Brasil, as maiores reservas de sal-gema encontram-se no Espírito Santo e há um embate grande sobre a exploração em parte dessas reservas porque elas ocorreriam sobre áreas quilombolas, com potencial risco de dano a essas áreas, uma situação similar ao que hoje acontece com a mina da Braskem em Maceió,” acrescenta o professor. 

Rádio USP

Ouça a entrevista sobre o tema levada ao ar nesta terça-feira (30/01) na primeira edição do Jornal da USP no Ar:

Logo da Rádio USP

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira

(Post atualizado em 30/01, às 9h57)


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar é uma parceria da Rádio USP com a Escola Politécnica e o Instituto de Estudos Avançados. No ar, pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h e às 16h45. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.