O novo cenário da inovação da USP

Por José Roberto Cardoso, professor da Escola Politécnica da USP

 09/12/2024 - Publicado há 2 meses
José Roberto Cardoso – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
A gestão reitoral do professor José Goldemberg (1986-1990) foi o marco da abertura da USP para o mundo da inovação, na época em que o significado desta palavra se confundia com invenção.

O reconhecimento de que a aproximação da fonte do saber com a fonte dos problemas mudou o perfil do pesquisador e impactou profundamente a educação superior, notadamente as carreiras tecnológicas. A Universidade, tal qual réptil rastejante, trocou de pele na gestão do grande mestre.

Esta nova fase exigiu criatividade de seus dirigentes na gestão dos recursos oriundos dos investimentos das empresas e do governo para financiar o novo tipo de pesquisa que seria empreendido. A agilidade administrativa passou a ser a nova palavra de ordem.

A reboque deste movimento nova cultura se estabeleceu nas empresas, que passaram a ver a Universidade com outros olhos, além daqueles focados na exclusiva formação de recursos humanos de qualidade e, também, se refletiu nas políticas públicas da pesquisa aplicada, com o surgimento de um arcabouço de incentivos à pesquisa sem igual na América Latina.

Laboratórios foram equipados com instrumentos sofisticados, infraestrutura adequada e prédios novos. A produção científica publicada avançou, colocando-nos em posição privilegiada no cenário nacional; quase um quinto de toda a produção científica do País sai anualmente de nossos pesquisadores.

O fim do século 20 trouxe consigo a exigência da inovação e, atrás dela, o fenômeno das startups. Milhares de estudantes, no convívio com este novo ambiente, enxergaram a possibilidade do prazer de trabalhar para si próprios e adquirirem a tão sonhada independência financeira. A inovação deixava então de ser exclusividade dos laboratórios e passou, também, a ser realizada nas garagens dos alunos de graduação.

Os trabalhos de fim de curso, dissertações e teses passaram a ser fontes de ideias para muitos empresários investirem em novos produtos e sistemas e o sucesso de alguns realimentava o sonho de outros. Apesar da dificuldade de rastreá-las, em 2023 quase 2.800 empresas haviam sido carimbadas com o selo DNA USP.

Na primeira década deste século a “inovação” ocupou o espaço que lhe era devido. Iniciativas como o Inova USP, Inova HC, Inova Incor, Supera Parque, Parq-Tec, Cietec, entre outras, levaram a um grande ambiente de inovação constituído por Cepids, Cpes, unidades Embrapii e outras, e incubaram, só em 2023, quase 180 startups.

Essa pulverização de iniciativas acomodou a diversidade de nossa comunidade e os resultados começaram a aparecer.

No entanto, mais um passo deveria ser dado. As instituições – empresas e governo – precisavam estar, fisicamente, próximas da academia, para com ela compartilhar seus desafios, que em alguns casos pode ser a razão de ser de sua sobrevivência.

A proximidade gera intimidade e intimidade gera segredos. São estes segredos que queremos compartilhar, pois, com certeza, são os desafios que devem ser superados através de equipes interdisciplinares, com alta densidade intelectual, composta da mistura de competências das empresas e da academia. Esta sinergia, comum no mundo moderno, só agora se aproxima de nosso país, e tem viabilizado o aparecimento das deeptechs, detentoras do conhecimento profundo das ciências básicas, capazes de solucionar problemas cuja solução envolve diversos saberes.

“Fortalecer a inovação na USP é uma prioridade da atual gestão.” Foi o que ouvimos na posse do professor Carlos Gilberto Carlotti Jr.

Todos os efeitos desta afirmação são visíveis no quadro atual da inovação em nossa universidade. Para completá-lo faltava um agente agregador, que juntasse, em um único ambiente efervescente de ideias, núcleos de inovação de pequenas a grandes empresas, pesquisadores das mais diferentes áreas do conhecimento e um grande time de startups dispostas a romper com o establishment tecnológico do passado.

Foi esta a razão da concepção do Instituto Internacional de Inovação (i3) da USP que ora está em gestação. Em área privilegiada no campus de São Paulo, este complexo abrigará conglomerados de pesquisas nas áreas da saúde, humanidades e tecnologia, que em ação conjunta estimularão a cocriação baseada em conhecimentos profundos oriundos das ciências básicas e aplicadas.

O privilégio da localização do i3, associado a infraestrutura de qualidade e com o suporte do ambiente de inovação da Universidade, fundamentado em modelo de governança ancorado na ética e nas boas práticas de pesquisa, levará a USP a ficar ainda mais próxima da sociedade.

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