Em sua primeira coluna do ano, o professor Renato Janine Ribeiro faz várias considerações a respeito do presidente norte-americano Donald Trump, a começar pela sua posse, quando duas fotos chamaram a atenção do colunista: a da primeira dama, Melania Trump, escondendo os olhos, “o que suscita todo tipo de interpretação e de inquietação”, e a dos grandes donos das empresas de alta tecnologia, os quais se destacavam a ponto de estarem à frente dos próprios ministros e dos dignitários estrangeiros convidados para a posse. “Pois bem, esses homens, uma semana depois, tiveram que amargar um prejuízo calculado em US$ 1 trilhão do valor do seu patrimônio, porque uma empresa chinesa, da qual pouco se tinha ouvido falar, lançou uma inteligência artificial que rivaliza com o ChatGPT, mas que teve um investimento e um custo muito menor do que este.” Janine Ribeiro vê nisso um declínio, ao mesmo tempo simbólico e real do império americano, e aqui ele remonta ao conflito entre Estados Unidos e China, estabelecid0 ainda no primeiro governo Trump e acentuado ainda mais pela invasão da Ucrânia pela Rússia.
“Nós temos o enfrentamento Ocidente versus Rússia e temos um enfrentamento suplementar Ocidente, sobretudo Estados Unidos, versus China. A Europa não é tão antichinesa quanto os Estados Unidos.
E o fato de a China produzir essa inteligência artificial de primeira qualidade e mais barata que a norte-americana e, além disso, de acesso gratuito ao público, pelo menos por enquanto, tudo isso representa uma espécie assim de xeque, não digo xeque-mate, mas um xeque, como feito no xadrez, à posição dos Estados Unidos como grande potência mundial”, diz ele, antes de prosseguir: “Não vamos esquecer: a China está se equiparando aos Estados Unidos em termos de PIB, mas a China tem pelo menos quatro vezes mais que a população norte-americana. Então, essa proporção ainda está longe de ser per capita. A China per capita é bem mais pobre que os Estados Unidos, embora esteja se desenvolvendo muito. E o último ponto: a China assumiu, com toda clareza e com todo o vigor, a questão da ciência. A China é provavelmente o país do mundo hoje que mais usa ciência na sua definição política. Então temos um quadro complexo em que a China surge realmente como quem faz uma espécie assim de xeque ao Ocidente”.
Ética e Política
A coluna Ética e Política, com o professor Renato Janine Ribeiro, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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