Epidemia de dengue é uma realidade, mas o que dizer da epidemia pelo uso de drogas?

São quase 20 mil dependentes de drogas em 100 mil jovens e isso não é considerado epidemia, alerta João Paulo Lotufo, que condena a falta de vontade política para combater essa situação

 11/03/2024 - Publicado há 4 meses

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Nesta sua coluna, João Paulo Lotufo traça um paralelo entre a epidemia de dengue no Estado de São Paulo e no Brasil e o uso de drogas e álcool pelos jovens. Se 300 casos de dengue para 100 mil habitantes significa epidemia de dengue, o que dizer das porcentagens relativas ao universo dos usuários de drogas? Em suas pesquisas,  já de algum tempo atrás, sobre a iniciação de drogas em dez escolas da região do Butantã, ele constatou que 25% dos alunos entre 10 a 17 anos haviam experimentado o cigarro; 20% deles, numa faixa etária a partir dos 17 anos, experimentaram a maconha; 60%, o álcool; e em torno de 10% tinham usado o crack. Desses números, 20% já estavam dependentes, ou seja, fumavam todo dia ou bebiam diariamente.

“Trezentos casos de dengue para 100 mil habitantes significa epidemia, nós temos aqui quase 20 mil dependentes de drogas em 100 mil jovens e isso não é considerado epidemia […] por ano morrem no Brasil 150 mil pessoas pelo tabaco e 100 mil pessoas pelo álcool, só aí nós temos 250 mil pessoas. Esse número é muito alto; se a gente juntar ainda a maconha, crack, cocaína e outras drogas sintéticas, o número de mortes por questão de droga fica muito perto do número de mortes por covid, que nós tivemos no primeiro ano da epidemia: 400 mil. O que eu estou querendo dizer é o seguinte: para algumas doenças há movimentação para combatê-las, e em relação às drogas os passos são muito lentos.”

Para Lotufo, falta vontade política para combater o uso de drogas no Brasil: “Em outros países existem regras, regras muito claras, ninguém é contra a bebida alcoólica, mas existem regras, e no Brasil há falta de regras, há falta de vontade política para que a gente ordene onde pode beber, onde não pode beber, como foi feito pelo tabaco. Éramos 30% de fumantes, hoje somos 10% de fumantes; o que se fez?: legislação forte! É proibido fumar em ambiente fechado, punição exemplar para quem não cumprir , aumento do preço do cigarro, tratamento gratuito para a população e retirada da propaganda de cigarro da mídia”.


Dr. Bartô e os Doutores da Saúde
A coluna Dr. Bartô e os Doutores da Saúde, com o professor João Paulo Lotufo, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7 ; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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