Com duas edições inéditas, revista discute ótica feminista na comunicação corporativa

Disponível em formato on-line, revista da Escola de Comunicações e Artes da USP discute temas como islamofobia na mídia, mulher no mundo do trabalho e femininos plurais; evento ocorre na próxima terça, 21, apresentando os trabalhos contidos nas edições

 17/03/2023 - Publicado há 1 ano     Atualizado: 21/03/2023 as 13:37
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Nas edições 40 e 41, a Organicom trata pela primeira vez de temas da comunicação a partir da ótica feminina – Fotomontagem com as capas das edições 40 e 41 da Organicom e imagem de senivpetro/Freepik

 

Maria Aparecida Ferrari – Foto: Arquivo pessoal

Em quase 20 anos de existência, a revista Organicom, publicada pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP – que tem periodicidade quadrimestral -, irá discutir, pela primeira vez, relações públicas e comunicação organizacional a partir da ótica feminista. A edição 40, que traz o dossiê Mulheres e Feminismos: teorias, reflexões e processos comunicativos, já se encontra disponível de forma on-line no Portal de Revistas da USP. Para acessar basta clicar neste link.

Para a professora Maria Aparecida Ferrari, do Departamento de Relações Públicas da ECA, o desejo em tratar das questões de gênero surgiu ao longo do antigo governo, no qual era comum que o ex-presidente dialogasse de forma inadequada com as mulheres na mídia. “Não conseguíamos ver a importância da convergência comunicação e mulheres. Ficamos perplexas com pesquisas que nos mostraram uma série de números assustadores sobre feminicídios e violências de gênero que indicam a baixa inserção da mulher, seja nas empresas e até nas universidades”, diz. “Além da maneira grosseira com que o ex-presidente Bolsonaro se referia ao público feminino”, acrescenta a professora, que coordenou as duas últimas edições da revista.

Sheila Prado Saraiva – Foto: Arquivo pessoal

Ela, que também integra o Programa de Pós-Graduação em Ciência da Comunicação (PPGCOM) da ECA, contou com a colaboração de Sheila Prado Saraiva, ex-aluna do curso de Relações Públicas da escola e hoje consultora de temas de gênero e migração na Espanha, teve a ideia do dossiê Mulheres e Feminismos. Para a surpresa delas, foram muitas as pesquisadoras nacionais, internacionais e figuras femininas interessadas em discutir o papel das comunicações e as relações organizacionais a partir dos estudos e relatos de mulheres. “Nossa expectativa era pequena em termos de respostas positivas, mas no final tivemos muitas colaborações de pesquisadoras importantes tanto do Brasil como de outros países”, explica Ferrari. 

Também houve participação masculina. O professor Octavio Salazar Benitez, da Universidade de Córdoba, na Espanha, discutiu a sexualidade masculina como problema político, apresentando a pornografia baseada na erotização do poder masculino e da submissão feminina. Segundo ele, esse conteúdo presente nas mídias digitais acaba por refletir no avanço dos casos de violência sexual. Seu artigo encontra-se presente na edição 40.

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O dossiê Mulheres e Feminismos: teorias, reflexões e processos comunicativos apresenta, a partir de depoimentos, artigos e entrevistas, o papel das mulheres nas comunicações. No volume, aparecem temas como: feminismos plurais às mulheres com deficiências, justiça reprodutiva e o papel da mídia na desconstrução de estigmas relacionados às mulheres islâmicas. Além disso, traz um guia bibliográfico que questiona o padrão heteronormativo no campo das comunicações.

Na edição também há um estudo que apresenta o perfil de gênero na USP entre os anos de 2000 e 2019. O perfil de gênero traçado concluiu que há relativa igualdade de gênero entre os estudantes, mas uma desigualdade persistente na carreira docente. A pesquisa foi desenvolvida pelo Escritório USP Mulheres e coordenada pelo doutor Rodrigo Correia do Amaral e os estudantes Rennan Valeriano Silva Lima e Maria Eduarda Martins Mendes Cordeiro, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade.

Para além da revista

Em breve, será lançada a edição 41, com o dossiê Mulheres e Feminismos: mundo do trabalho, organizações e sociedade, que traz artigos sobre a forma como os meios de comunicação divulgam feminicídio, o mundo do trabalho e a pouca representatividade da mulher em cargos executivos com recortes de cor da pele, deficiências e idade.

Para celebrar a produção das revistas que apresentaram as questões de gênero e a publicação do último volume, a professora Maria Aparecida Ferrari, junto às pesquisadoras e outras convidadas, irão discutir a elaboração das duas últimas edições, presencialmente, na próxima terça-feira, dia 21.

Foto: Divulgação/Organicom

O evento acontecerá às 9h30 no Auditório Lupe Cotrim, localizado no primeiro andar do prédio da ECA, e será transmitido simultaneamente pelo canal do YouTube. Não é necessário realizar inscrição.

De acordo com a professora Ferrari, embora o Brasil seja um país com uma população predominantemente feminina, ainda são poucas as mulheres que assumem posições executivas nas empresas. “A comunicação é um processo interacional e simbólico. Então, a questão de como a mulher na sociedade brasileira, que é patriarcal, machista e misógina, precisa ser estudada e depois precisamos dar voz a diferentes mulheres que habitam este País”, reforça ela.

Saiba mais: maferrar@usp.br


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