Trilha sonora cinematográfica pode influenciar na criação de memórias

Memórias são criadas, lembradas e relembradas através da música e outros elementos auditivos típicos da narrativa cinematográfica

 24/10/2022 - Publicado há 2 anos
Por
Montagem com câmera e rolos de filme – Foto: Pixabay

 

Logo da Rádio USP

As trilhas sonoras representam toda a parte do áudio de um filme ou série, nelas estão incluídos desde as falas até os silêncios. A música é a parte mais conhecida da trilha sonora e, embora não seja a única, tem muita importância para o significado passado pela narrativa.

“A nossa percepção sonora sempre vem acompanhada de uma percepção visual e de outras percepções que são fornecidas pelos nossos sentidos”, pontua o professor Fábio Cintra, do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da USP. Desse modo, a criação de memórias também é um processo influenciado pela trilha sonora.

Memórias

Suzel Ana Reily – Foto: Reprodução/Fapesp

A música, como parte fundamental da trilha sonora, torna o ato de lembrar mais fácil: “A música é interessante porque, quando você quer armazenar ou ir atrás de informações muito precisas, é muito difícil memorizar as coisas se elas não estão conectadas de diversas maneiras. Então, os bardos, por exemplo, que eram responsáveis por lembrar toda a história do seu grupo, criavam canções. Assim, eles tinham a melodia, mais a letra, mais a narrativa e, juntando todas essas três coisas, era muito mais fácil lembrar toda a história”, analisa Suzel Ana Reily, doutora em Antropologia Social pela USP.

Suzel também explica que memorizar é como criar uma avenida entre os neurônios e, quanto mais maneiras de lembrar você tiver, mais conexões você terá nessa avenida. A música, para ela, é uma dessas formas de facilitar a criação de memórias e do ato de lembrar.

Bem como criar memórias individuais, a música tem a função de propagar significados de outras épocas, como os da resistência à ditadura e da cultura afro-brasileira, como comenta Suzel: “A música nos permite propagar memórias que não foram necessariamente as nossas. Então, são canções que foram importantes ou criadas num determinado momento histórico que nós cantamos para preservar uma memória”.

Trilha sonora

Fábio Cintra – Foto: Reprodução/LinkedIn

Cintra coloca a trilha sonora como parte da própria narrativa cinematográfica: “Se você mudar a trilha sonora de um filme, você basicamente está mudando o filme. Uma trilha sonora pode reiterar emoções, ela pode servir para localizar o espectador num lugar onde a ação esteja acontecendo, ela tem o poder de transcender o quadro do audiovisual; pode falar de coisas que não estão lá, ela pode negar, inclusive, o que a gente está vendo na tela e isso vai criando sentidos diversos”.

Suzel acrescenta o papel dessa trilha sonora repleta de significados distintos na criação das nossas memórias, sobretudo o da música: “As trilhas sonoras operam muito com o flash memory (um tipo de memória de um acontecimento muito marcante). Então, muitas vezes a trilha é utilizada para gerar essas sensações em determinados momentos: você tem uma música que está meio constante, ela vai crescendo e dá uma explosão num determinado momento e você lembra de tudo junto: o som, a imagem, o ator, a expressão no rosto daquele ator”.

A trilha sonora, quando relacionada com a criação de memórias, é uma forma especial de ouvir música: “É uma música que a gente não escuta só com os ouvidos, separando ‘o som’ do resto da nossa percepção, mas é uma música que necessariamente precisa estar junto com uma visualidade e, eventualmente, junto com outros tipos de percepção”, comenta o professor Cintra.


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.