Redução no número de homicídios é sintoma da profissionalização das atividades criminais no País

Bruno Paes Manso afirma que operação de facções, principalmente no interior do presídio, foi otimizada com a adoção de uma lógica empreendedora: “O crime quer ganhar dinheiro, quer cortar gastos”

 03/03/2022 - Publicado há 3 anos
Em alguns estados, o número de mortes ainda explode quando há ofensivas de um grupo contra outro – Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil-Fotos Públicas
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O índice de violência no Brasil sofreu quedas expressivas em 2021, ano em que o número de assassinatos no País teve redução de  7%. Durante o período, cerca de 41 mil mortes violentas e intencionais foram registradas nos estados brasileiros, a menor quantidade da série histórica, segundo dados do Monitor da Violência. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, Bruno Paes Manso, pesquisador do Núcleo de Estudos de Violência da USP, comenta as ações que permitiram o refreamento dos crimes. 

A análise do número de homicídios baseia-se em diversas variáveis, e tanto crescimentos como quedas intensas por Estado podem auxiliar na identificação da conjuntura dos delitos no local. Tendo isso em mente, o pesquisador afirma que a redução no número de homicídios é um sintoma da profissionalização das atividades criminais no País. A operação de facções, principalmente no interior do presídio, foi otimizada com a adoção de uma lógica empreendedora: “O crime quer ganhar dinheiro, quer cortar gastos”, diz Manso. 

Bruno Paes Manso – Foto: nev.prp.usp.br

“Em alguns estados, o número de mortes ainda explode quando há ofensivas de um grupo contra outro”, continua o pesquisador, que aponta o domínio do mercado de drogas por organizações criminosas do Sudeste brasileiro como causa de eventuais conflitos e homicídios em outras regiões do País. Os grupos, bem articulados, “estão cada vez mais próximos do caminho de se tornarem máfias infiltradas”, completa. 

Como conter o avanço das facções?

A resposta do poder público a este novo desafio vem na forma da implementação de políticas de segurança em penitenciárias. “Com o passar dos anos, o Estado passou a identificar diálogos e negociações através de serviços de inteligência e escuta nos locais”, conta Manso. A medida facilita a punição de líderes e responsáveis, além de conter a atuação de grupos menores, mais vulneráveis. No entanto, “há um desafio quase impossível de  enfrentar — a ilegalidade do comércio de drogas o torna extremamente lucrativo e atrai muitas pessoas, que arriscam perder a vida ou a própria liberdade”, diz Manso, que segue: “A política de guerra [adotada pelo Estado brasileiro] não tem fragilizado o comércio, tem apenas produzido mais tráfico de drogas”. 

Para o pesquisador, uma possível resolução para o problema estaria na regularização do mercado de drogas, medida adotada por alguns governos estadunidenses, por exemplo. “A partir do momento que o Estado consegue estabelecer suas regras e evitar excessos, inclusive no consumo de drogas, você tem uma racionalização desses processos e deixa de delegar essa função para as facções”, propõe. Embora o número de assassinatos no Brasil esteja em queda, sem medidas efetivas de prevenção ao crime Manso afirma que é difícil fazer previsões para o futuro. “Há algumas variáveis contrárias à queda, como o aumento na venda de armas, fuzis e munições pesadas a grupos articulados”, diz. A tendência observada pelo pesquisador é a crescente profissionalização do mercado de drogas e entrada do dinheiro do crime em novas atividades ilegais, como o desmatamento, garimpo e lavagem de terras. 


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