Perspectivas do uso dos lasers na recuperação de olfato e paladar após covid-19

Por Luciane Hiramatsu Azevedo, professora da Fundação da Faculdade de Odontologia da USP e outros autores*

 09/11/2021 - Publicado há 2 anos
Luciane Azevedo – Foto: Arquivo Pessoal

 

Pedro Soares – Foto: Arquivo pessoal

 

Patrícia Costa e Silva – Foto: Arquivo pessoal

 

Carlos de Paula Eduardo – Foto: Arquivo Pessoal
O paladar e o olfato são uma parte importante para a vida cotidiana. Essa perda pode impactar significativamente a vida dos indivíduos acometidos, pois esses sentidos têm uma grande influência, por exemplo, na escolha dos alimentos e na experiência que eles proporcionam. Consequentemente, alguns indivíduos relatam perder um dos maiores prazeres da vida.

Com o surgimento de casos de uma pneumonia associada a uma nova cepa de coronavírus, na cidade de Wuhan (China), no final do ano 2019, a OMS (Organização Mundial de Saúde) nomeou oficialmente a doença como covid-19 (Corona Virus Disease 2019) e sars-cov-2 (Severe Acute Respiratory Syndrome – Corona Virus 2). Em março de 2020, a ENTUK (Associação Britânica de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço) afirmou a possível evidência de um número significativo de pacientes com covid-19 que desenvolveram anosmia (perda absoluta do olfato) e hiposmia (diminuição da sensibilidade olfativa). Houve também registros de ageusia (completa falta de paladar) ou disgeusia (distorção persistente do paladar, sendo transitória ou permanente), com relatos de que odores desagradáveis ​​substituíram os normalmente deliciosos.

Em abril de 2020, o CDC (Centers for Disease Control and Prevention) dos Estados Unidos atualizou as definições para os sintomas da covid-19, fazendo a inclusão da perda de paladar e/ou olfato. Portanto, no hall de sintomas para suspeita de diagnóstico de covid-19, que podem aparecer de 2 a 14 dias após a exposição ao vírus, podemos encontrar: febre, tosse, dificuldade em respirar, tremor, dor muscular, cefaleia, dor de garganta, perda de olfato e/ou paladar. Essas últimas – a perda olfatória e do paladar – podem ser intensas e persistirem por meses.

Embora os mecanismos pelo qual a infecção pelo coronavírus, sars-cov-2, não sejam totalmente compreendidos, a literatura científica tenta explicar o porquê dessa perda parcial ou total do olfato e/ou paladar. Uma explicação para essa perda parcial ou total de paladar é que os receptores presentes nas células do epitélio oral para as seguintes enzimas, tanto a Conversora de Angiotensina (angiotensin-converting enzyme 2) ACE2 quanto Protease Transmembranar Celular de Serina 2 (transmembrane protease serine 2) TMPRSS2, são os que o vírus sars-cov-2 utiliza para adesão e entrada nas células. A expressão desses marcadores em maior quantidade nas papilas gustativas, supostamente explicaria a repentina perda de função das mesmas antes de outros sintomas surgirem, bem como o tempo estendido em seu retorno à função adequada.

Devido ao relativo curto espaço de tempo e à limitada disponibilidade de dados científicos sobre os mecanismos que desencadeiam a perda de paladar e/ou olfato em decorrência do sars-cov-2, as possibilidades terapêuticas têm ficado limitadas a tratamentos já existentes, tais como a laserterapia ou terapia de fotobiomodulação (TFBM) com uso de lasers de baixa potência (para aceleração do reparo tecidual do epitélio oral) e terapias medicamentosas que visam o reparo de tecido nervoso periférico comprometido.

O uso do laser de baixa potência consiste em uma terapia adjuvante aos tratamentos convencionais, que visa a recuperação de tecidos em desequilíbrio, atuando na inibição ou estímulo dos mesmos, induzindo o seu retorno à função fisiológica. A utilização da fotobiomodulação em efeitos de ageusia ou disgeusia está relatada na literatura em pacientes submetidos a tratamentos de radioterapia de cabeça e pescoço e quimioterapia. A utilização de complexos vitamínicos também surge como uma possível alternativa de tratamento para a recuperação do olfato e do paladar pós covid, porém o uso tanto da terapia de fotobiomodulação como o de complexos vitamínicos está pouco relatado na literatura.

Com o intuito de contribuir para o conhecimento da eficácia de terapias com fontes de luz em um dos sintomas da covid-19, a perda de paladar, em setembro de 2021 foi iniciada, no Laboratório Especial de Laser em Odontologia (Lelo) da Faculdade de Odontologia da USP, uma pesquisa clínica intitulada “Uso da fotobiomodulação e complexo vitamínico B em pacientes com alteração de paladar decorrente da infecção por covid-19: estudo in vivo, randomizado e duplo-cego.” O objetivo do ensaio clínico, randomizado, duplo-cego, controlado, “multi-arm”, será avaliar os parâmetros de fotobiomodulação e tratamento com complexo vitamínico, relacionados à remissão do paladar em pacientes acometidos por ageusia ou disgeusia prolongada após infecção por covid-19, comparados a um grupo placebo.

Os resultados esperados são de que a terapia de fotobiomodulação, com comprovada eficácia em reparo nos diversos tecidos vivos, possa contribuir de forma significativa na recuperação do paladar pós covid e, com isso, melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Por ser uma terapia de relativa baixa complexidade de aplicação, baixo custo, sem efeitos adversos e não invasiva, seus benefícios nessa abordagem podem ser de grande valia para pacientes acometidos, podendo ser de ampla aplicação não apenas nos atendimentos realizados em clínicas privadas, como principalmente em serviços públicos.

* Pedro Soares, mestrando da Faculdade de Odontologia da USP, e Patricia Moreira de Freitas e Carlos de Paula Eduardo, professores da Faculdade de Odontologia da USP.


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.