Alta global no preço de alimentos beneficia exportadores, mas prejudica consumidor

Com aumento de 40%, segundo relatório da ONU, preço dos alimentos registrou oscilações pela pandemia, taxa de câmbio e até por mudanças climáticas

 29/06/2021 - Publicado há 3 anos
Quando se trata da carne, um dólar alto em relação ao real acaba encarecendo as rações e outros insumos e refletindo no preço final do produto – Foto: phototram- Flickr

De acordo com a Organização para Alimentos e Agricultura (FAO) da Organização das Nações Unidas (ONU), os preços globais dos alimentos tiveram o maior aumento da década. Em maio, o índice responsável por essa medida saltou 40%, indicando efeitos da inflação causada pela pandemia e sendo o maior aumento desde 2011.

O índice leva em consideração o preço de cinco grupos de alimentos: carnes, laticínios, cereais, óleos e açúcar. A professora Aniela Carrara, da Escola de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP em Piracicaba, explica que, entre estes, destacam-se os cereais, que tiveram um aumento de 36,6% em relação a maio de 2020. O aumento dos preços de cereais como trigo e milho, por exemplo, pode ser explicado por questões climáticas, cujas alterações implicam na redução da oferta desses alimentos.

A professora Aniela vai além: “Podemos ressaltar esses dois produtos, gerando uma perspectiva de queda da oferta e observando que nós temos ainda uma volta da demanda por conta de alguns países, principalmente da China, depois dessa pressão causada pela pandemia em 2020”. Ou seja, enquanto alguns países enfrentam problemas de oferta de cereais por conta de alterações climáticas, outros, que se encontram em recuperação pós-pandemia, como é o caso da China, já possuem capacidade de retomar níveis mais altos de demanda, o que causa um “descasamento”.

Outro fator implícito nos dados da FAO e que pode ser trazido para um contexto brasileiro é a questão do câmbio. Quando se trata da carne, elemento importante na cesta de consumo do brasileiro, um dólar alto em relação ao real “acaba encarecendo as rações, o que vai aumentar o custo de produção e o preço do boi para o produtor. Junto a isso, o dólar alto também incentiva as exportações de carne em detrimento do mercado interno brasileiro. Somando-se a isso, o dólar elevado também aumenta o preço dos combustíveis, como o diesel, e isso impacta o frete”. Em outras palavras, se, por um lado, internamente, o preço da carne se eleva ao consumidor brasileiro com o aumento do dólar, por outro, o produtor, mesmo tendo que enfrentar um encarecimento do seu produto, pode se beneficiar do aumento de exportações.

A professora Aniela lembra que esse aumento de exportações pode ter desempenhado um papel importante no superávit das contas de transações correntes do Brasil, as quais mensuram as compras e vendas de mercadorias e serviços do País com o exterior. “Falando em indicadores internacionais de commodities, há uma perspectiva de aumento de preço. Falando internamente, a níveis de preço para o Brasil, nós também temos uma perspectiva de manutenção de alta de preços ao consumidor”, conclui a professora, ressaltando a importância e o impacto de um novo “boom de commodities” no Brasil.


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