Os novos ativismos da era do confinamento

Projeções nos prédios dão cara aos protestos em tempos de coronavírus

 23/03/2020 - Publicado há 4 anos
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“Entre outras mazelas, o coronavírus está transformando em cotidiano o panorama mais sombrio do futuro da cidade”, comenta a professora Giselle Beiguelman em sua coluna Ouvir Imagens, da Rádio USP (clique e ouça o player acima). “As medidas de precaução contra sua propagação consolidam a cultura urbana do isolamento, da ojeriza ao contato físico, da consagração do trabalho remoto e da condenação do idoso a elemento disfuncional da atualidade.”

Beiguelman lembra que o espaço público, que já foi tão massacrado pelos sistemas de vigilância, é sua primeira vítima fatal. “A palavra de ordem é parar, ficar em casa, fechar fronteiras e abrir muitas torneiras. Os mais otimistas identificam nesse cenário sinais positivos para um slow down geral, que nos faria repensar o modo de vida 24/7, ou 24 horas por dia, sete dias por semana, que desembocou na Sociedade do Cansaço, do filósofo Byung-Chul Han.”

Diante dessa nova ordem, a professora questiona: “E as pessoas que não podem fazer o seu trabalho remotamente, como camelôs, faxineiras, trabalhadores da construção civil, montadores de exposição, frilas mil e o neo “lumpesinato digital” que abastece os Ifoods e Rapids da vida? E como assim, se for inevitável sair, deslocar-se, ‘evitem usar ônibus e metrôs?’. Em que planeta as pessoas que prescrevem essas regras vivem? Naquele que ainda é redondo e habito, isso é para poucos.”

Beiguelman ressalta: “Não discuto a necessidade das medidas estabelecidas. Elas são a única alternativa para conter a pandemia. E estou mais que ciente que o coronavírus não é exclusividade dos pobres. Contudo, é óbvio que são os socialmente mais vulneráveis que sofrerão mais.”

Diante do manifesto geral do último dia 18 de março, o janelaço, a colunista acredita que os protestos não vão parar em virtude do confinamento. “A população não só foi às janelas, como aconteceram em diversas cidades do País projeções em empenas que expressam a nova cara do ativismo em tempos de confinamento. Ironizando o inacreditável desdém do presidente à gravidade da pandemia do coronavírus, as projeções deixam claro que nossas insatisfações estão literalmente subindo pelas paredes! E mostram que, se não podemos ir às ruas, os prédios falarão por nós. Em tempos de “coronavida”, a empena é a nova praça.”

Para quem não viu ou quiser recordar, Giselle Beiguelman coletou algumas dessas imagens em seu perfil no Instagram: https://www.instagram.com/gbeiguelman/


Ouvir Imagens 
A coluna Ouvir Imagens, com a professora Gisele Beiguelman, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h, na Rádio  USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e  TV USP.

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