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Esta foi a fala da professora Maria Arminda do Nascimento Arruda, no prédio da Rua Maria Antonia na noite de 2 de outubro, na abertura do evento Ecos de 1968 – 50 Anos Depois
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Hoje é um dia especial na história da Universidade de São Paulo, particularmente da área das chamadas Humanidades da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, cuja herdeira é a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.
Digo isso porque a história das Humanidades na USP se confunde com esse prédio e com os acontecimentos que resultaram na denominada “Batalha da Maria Antônia”.
Se não há o que comemorar, pois não se celebram tragédias, há o que rememorar, pois rememorar aqueles acontecimentos é repensar a própria história da Universidade de São Paulo. Desde então, a trajetória da USP mudou de rumo, levando de roldão a antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, gênese da Universidade de São Paulo.
Os acontecimentos da Rua Maria Antônia atingiram a identidade da USP. Este lugar e este evento são muito importantes para a nossa história, a história da Faculdade, cuja parte está presente nos dois livros – Livro Branco Sobre os Acontecimentos da Rua Maria Antônia: 2 e 3 de outubro de 1968 e Maria Antônia, uma rua na contramão. Por isso, tomei a iniciativa em nossa faculdade de republicá-los. Só poderiam ser relançados aqui, pois se trata da memória de acontecimentos que retratam a história da instituição. É a memória desse conjunto.
Em À sombra das raparigas em flor, escreve Proust: “a maior parte da nossa memória está fora de nós, uma viração de chuva, num cheiro de quarto fechado ou no cheiro duma primeira labareda, em toda parte onde encontramos de nós mesmos o que nossa inteligência desdenhara, por não lhe achar utilidade, a última reserva do passado, a melhor, aquela que, quando todas as nossas lágrimas parecem estancadas, ainda sabe fazer-nos chorar”.
Rememorar a Batalha da Maria Antônia, se leva ao pranto – real ou figurado – é oportuno e útil nessa quadra da história do País e das universidades públicas brasileiras. De qual história, afinal, estamos falando?
Sem querer ser livresca, mas buscando amparo em grandes autores que nos momentos de emoção aconselham e que falam de forma superior dos sentimentos, lembro Shakespeare em Como Gostais (palavras de Jaques, ato IV): “… a ruminante e múltipla contemplação de minhas jornadas acaba por me envolver, quase sempre, num estado de excêntrica tristeza”.
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