O esporte como forma de inclusão: rugby na USP rompe padrões

Seleção USP de Rugby Feminino vai representar País em Mundial Universitário, mas precisa de apoio financeiro

 23/05/2018 - Publicado há 6 anos
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Time Demônios de Maxwell em semifinal da Copa XV, contra time da Faculdade de Direito da USP – Foto: Reprodução

No imaginário de muitas pessoas, o rugby é vinculado à masculinidade, força e violência por conta do contato físico estabelecido entre os jogadores durante a partida. Entretanto, os times da USP estão buscando quebrar esses estigmas através do incentivo à prática do esporte por qualquer pessoa, respeitando suas singularidades.

A promoção do empoderamento é um dos objetivos da Seleção USP de Rugby Feminino, que acredita que a feminilidade e masculinidade não devem estar associadas à prática do esporte, segundo Karina Teixeira, jogadora do time e estudante do 5º ano do curso de Letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH).

“Nós, frequentemente, discutimos questões sobre a nossa identidade como time. A partir desse estereótipo, conseguimos questionar muitas coisas e entender essa associação com a masculinidade sobre uma outra visão.”

Time venceu os Jogos Universitários Brasileiros (JUBs) e disputará mundial – Foto: Reprodução

Apesar do feminismo ser constantemente tema de debates dentro do time, as jogadoras enfrentam episódios de machismo por conta dessa relação estabelecida entre o esporte e a masculinidade.

“Muitos homens falam que rugby feminino não é rugby de verdade e que mulher não sabe jogar, o que é mentira” contesta a jogadora. “Os resultados da seleção feminina brasileira são, inclusive, mais expressivos que os da seleção masculina.”

Time Demônios de Maxwell  – Foto: Reprodução

No time Demônios de Maxwell, as questões políticas e ideológicas também fazem parte das discussões cotidianas, trabalhando coletivamente e acolhendo jogadores de quaisquer identidades de gênero.  “O time dá acesso a todos, independente de suas orientações. Não toleramos os trotes ou qualquer forma de racismo e preconceito”, comenta Flávio Mazzeu, treinador do time.

Além do mais, ambas as equipes ressaltam um dos diferenciais do rugby: todos os portes físicos são bem-vindos e podem ser aproveitados nas partidas.

Rugby na USP

Criado em 1845, na Inglaterra, o esporte é jogado com uma bola oval e tradicionalmente conta com 15 jogadores titulares e sete substitutos. O objetivo é marcar pontos através dos seguintes passes: “try”, quando o jogador toca com a bola no gol adversário; “conversão”, quando a bola é chutada para o gol após o try; “drop goal”, chute para o gol após a bola encostar o chão; e “pênalti”, quando o time que sofreu falta chuta para o gol adversário no local da infração.

Karina Teixeira, jogadora da Seleção USP de Rugby Feminino – Foto: Arquivo pessoal

Na USP, o esporte nasceu em 1934, após a doação de uma bola de rugby ao Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), entretanto, após a primeira partida o esporte foi esquecido durante anos na unidade por conta de vários motivos, como o início da Segunda Guerra Mundial, fazendo com que ressurgisse apenas em 1966. 

A categoria feminina surgiu em 2008 com o Rugby USP, que se tornou clube, passou a organizar torneios e, após dez anos de existência, pretende participar do Campeonato Valentín Martinez, no Uruguai, motivo pelo qual estão realizando uma campanha de financiamento através da plataforma Vakinha, com a meta de R$ 15 mil.

A partir do surgimento na Universidade, começaram a nascer novos times dentro dos campi, tanto no interior como na capital, como a Seleção USP de Rugby Feminino e Demônios de Maxwell.

A Seleção USP de Rugby Feminino nasceu em 2016 com atletas que se destacavam na modalidade em suas respectivas unidades e se consagrou com a vitória nos Jogos Universitários Brasileiros (JUBs). Agora, elas também buscam apoio financeiro por meio de uma campanha de financiamento coletivo, com a meta de arrecadar R$ 45 mil para disputar o Mundial Universitário na Namíbia, que será entre os dias 12 e 14 de julho.

Com o mesmo formato, agregando estudantes de diversas unidades da USP, surgiu em 2011 o time Demônios de Maxwell (nome que homenageia o experimento mental do físico James Clerk Maxwell). Ele é uma iniciativa de estudantes do Instituto de Física (IF) da USP que mostraram interesse em se aprofundar no esporte, buscando treinadores que pudessem fazer parte da construção do time.

Uma relação além do esporte

Segundo Roger Santesso, estudante do curso de Física, em São Paulo, e capitão do Demônios de Maxwell, a relação entre os jogadores é mostrada através de valores que compõem o rugby. “Respeito, solidariedade, disciplina, paixão e integridade são os únicos pré-requisitos para começar a se aventurar na modalidade e o principal diferencial entre outros esportes.”

Roger Santesso, capitão do Demônios de Maxwell – Foto: Arquivo pessoal

Ele destaca ainda a relação de respeito construída entre o capitão do time e o árbitro, além do laço entre os jogadores, que é percebido através do “terceiro tempo”, momento em que, após o jogo, os times adversários se encontram para confraternizar.

Para a jogadora Karina, a participação nos times de rugby constrói vínculos que transpassam a atuação dentro de campo e aprimora a relação entre os alunos e a Universidade. “Você passa a ter um carinho pela instituição de uma outra forma, com uma outra visão, além de permitir conhecer muita gente que, fora do esporte, você não conheceria.”

Roger ainda conta que grande parte de seu círculo de amizade é composta de jogadores do time, e foi nele que, inclusive, conheceu sua namorada, Ayran, pós-graduanda de Odontologia na área de protetores bucais para esportistas. “Ela fez o molde de proteção da minha boca e achei ela linda. Não tinha como falar com ela, até que meu molde deu problema e ela me contatou, então comecei a puxar assunto e a chamei para sair.”

O desenrolar da história do casal não poderia ser mais uspiano. “Chamei a Ayran para ‘bandejar’ (termo usado para se referir a comer no Restaurante Universitário, conhecido popularmente como Bandejão), porque na época não tinha dinheiro. Estamos juntos desde então.”

Para mais informações sobre os times, acesse as páginas do Facebook da Seleção USP de Rugby Feminino e Demônios de Maxwell.


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