Por que comemos o que comemos? E-book educativo explica como melhorar nossa saúde e a do planeta

“Detetives da Comida” ensina como se tornar um cientista cidadão, colaborando com informações importantes sobre alimentação para a melhoria da saúde planetária

 06/11/2023 - Publicado há 6 meses
Livro explica relação entre alimentação e a saúde planetária – Foto: Divulgação/IEA

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“A Saúde Planetária é uma área de estudo que reúne de forma interdisciplinar a saúde humana e suas relações com a saúde dos ecossistemas. Embora seja um campo em grande expansão frente aos desafios das mudanças globais recentes, trata-se de um assunto ainda pouco abordado no ensino básico e em escolas”, informam os organizadores dos e-books Detetives da Comida: o que comemos e por que comemos o que comemos?
e a Cartilha para quem ensina, uma sequência didática que traz material de apoio a professores, lançados no Portal de Livros Abertos da USP e com download gratuito. Dirigido a estudantes do Ensino Fundamental II, o material trata dos temas Segurança e Soberania Alimentar, sob a perspectiva da Saúde Planetária. 

Ambas as publicações são uma decisão coletiva, baseada na união de pessoas que decidiram agir em defesa da saúde das pessoas e do planeta. Realizado pelo Grupo de Estudos em Saúde Planetária do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP e pelo Clube Brasileiro de Saúde Planetária (CBSP), conta com apoio de muitas instituições, como a Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI), Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). A organização é dos professores Luís Gustavo Arruda e Beatriz Sinelli Laham (Instituto de Biociências da USP); Sheina Koffler (IEA/USP), Vanessa Goes (Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Antonio Mauro Saraiva (Escola Politécnica da USP), acrescidos da professora Aline Martins de Carvalho (Faculdade de Saúde Pública da USP) na cartilha. 

O livro Detetives da Comida começou a ser escrito por estudantes universitários de todo o País e de praticamente todas as áreas de estudo do Clube Brasileiro de Saúde Planetária (CBSP). A obra começa o percurso abordando onde plantamos a comida e a questão dos alimentos saudáveis, além de trazer um pouco da história da comida nas cidades. Também propõe uma investigação científica para entender com mais profundidade os hábitos alimentares na nossa região e pensar quais os impactos na saúde humana e do planeta. Já a cartilha traz subsídios teóricos e práticos para aplicação da sequência didática por professores em sala de aula, bem como possibilita adaptações ao contexto e realidade de cada escola, abordando temas como ciência cidadã, ensino por investigação, educomunicação, segurança e soberania alimentar e nutricional.  

Livro traz atividades didáticas para estudantes – Foto: Divulgação/IEA

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Detetives da comida

Para além da necessidade de se alimentar para viver, a nutrição pode ser compreendida por diversos olhares, como, por exemplo, um bem cultural que  representa a diversidade dos povos e etnias. Além de abordar essa questão, o livro faz uma introdução sobre alimentação saudável, incluindo a nova tabela de classificação, que está dividida em quatro categorias: Alimentos in Natura ou Minimamente Processados; Ingredientes Culinários; Alimentos Processados e Alimentos Ultraprocessados. Além disso, analisa os contextos físico, econômico, cultural e histórico que se relacionam com essas opções de alimentos.

“Do ponto de vista cultural, nas grandes cidades em geral, temos um modo de vida que valoriza produtos de alto valor agregado, industrializados e importados, pois nos fazem sentir parte da modernidade, das altas tecnologias. O mesmo acontece com nossa alimentação: valorizamos o consumo de alimentos como chocolates e hambúrgueres, ou seja, industrializados e de alto valor agregado. Além disso, aceitamos que as opções de alimentação não sejam tão diversas e que essas opções sejam dependentes das cadeias de consumo. Esse estilo de vida aceita alimentos de preparo rápido, mas que têm grandes quantidades de gorduras, açúcares, sódio, corantes, conservantes, sabores artificiais etc.”, explicam os autores. 

Lista de ingredientes de um alimento ultraprocessado que se mostra como “saudável”

Bolacha com maça e soja – fonte de fibra

Ingredientes: Farinha de trigo, óleo vegetal de girassol, açúcar, crocante de soja (6,6%) (feijão de soja cortado e tostado (50%) e açúcar), farelo de trigo, preparado de maçã (2,5%) (açúcar, polpa de maçã (30%), xarope de glucose, espessantes (E410, E1442), conservantes (E330, E202, E300), xarope de glucose, leite magro em pó, soro de leite em pó, levedantes (E500, E503i), sal, emulsionante (E322), aroma, antioxidantes (E304i, E306). Pode conter vestígios de ovo e sementes de sésamo.

O livro também aborda a interação do ser humano com o meio ambiente ligado à nossa alimentação, e propõe que os alunos assistam ao vídeo Impacto da alimentação na saúde e no meio ambiente, do canal Sustentarea (o livro traz um QR Code, ou pode acessá-lo neste link), e destaca os conceitos de segurança e soberania alimentar. “Dizemos segurança alimentar e soberania alimentar para nos referirmos à garantia de que todas as pessoas tenham acesso físico e econômico a alimentos que sejam nutritivos e suficientes para atender suas necessidades, respeitando a diversidade de produção e a cultura de um local”. 

Conceitos

Segurança alimentar: existem muitas definições sobre esse conceito, mas podemos considerá-la como o direito de toda pessoa ao acesso a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer outras necessidades essenciais — como moradia e saúde. Também faz parte dessa definição uma alimentação que promova saúde, respeito à diversidade cultural e sustentabilidade. Só para lembrar, essa definição é tão importante que virou lei: a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional – Lei Federal nº 11.326, de 2006. Vale destacar que esses conceitos também surgiram em contextos diferentes. O conceito de Segurança Alimentar se consolidou na década de 1970, a partir da Conferência Mundial de Alimentação promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), e tinha como objetivo erradicar a fome. Cerca de 20 anos depois, movimentos de trabalhadores do campo, vivenciando diversos problemas que as iniciativas de Segurança Alimentar da ONU não haviam sido capazes de resolver, como o aumento da pobreza e da fome, a destruição da natureza e a migração, propuseram o conceito de Soberania Alimentar. Portanto, o objetivo da Soberania Alimentar também é erradicar a fome, mas por meio de estratégias diferentes, que partem da própria população e dos povos envolvidos.

Soberania alimentar: é a capacidade das nações e comunidades locais de escolher o próprio sistema alimentar, como um todo. Enquanto o conceito de Segurança Alimentar foca o acesso aos alimentos, ressaltando os processos de compra e venda de produtos, o conceito de Soberania Alimentar se estende também para os processos de produção e distribuição. Esse conceito leva em conta o direito dos povos de definir suas próprias estratégias e políticas associadas ao sistema alimentar, como na escolha de quais alimentos irão receber mais incentivos do governo tanto para o comércio exterior quanto para a alimentação da população. Portanto, uma sociedade com soberania alimentar respeita a diversidade de alimentos e os saberes de outras comunidades — como da culinária indígena.

Investigação científica 

Baseado no conceito de ciência cidadã, em que cientistas profissionais e cientistas cidadãos trabalham em parceria em um projeto científico, investigando e descobrindo informações novas e importantes para nossa sociedade, o livro propõe aos alunos uma pesquisa sobre a alimentação e seus efeitos na sociedade. Através de um questionário (encontrado como ficha de coleta no Anexo 1 do livro) são propostas entrevistas que, segundo os autores, vão construir um retrato confiável sobre a questão. Antes, traz dicas importantes sobre o estudo, como: quem participa da pesquisa deve saber o objetivo do estudo; é preciso manter o anonimato do participante; a participação deve ser voluntária. Depois de coletar os dados, é preciso organizá-los em tabelas e gráficos e, por fim, os dados devem ser interpretados. 

O livro ainda traz questões para que os alunos possam testar seus conhecimentos, e propõe uma última tarefa: “você deverá elaborar e postar nas redes sociais um texto ou vídeo curto respondendo nossa questão de investigação, ‘Como é a alimentação das pessoas da minha região?’, e relacionando-a com o contexto que determina essa alimentação. O texto também pode servir de base para a produção de um vídeo. Depois é só fazer a postagem, com a hashtag #capitãoplanetinha, para que os autores possam acessar os resultados da investigação. Cumpridas todas as etapas, no final do livro, os alunos ganham um diploma de cientista cidadão.


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