Os poemas luso-brasileiros dos séculos 18 e 19 são descritos como prenúncios do Romantismo e dos poetas do período, como nacionalistas e revolucionários. O professor Jean Pierre Chauvin, do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, analisa criticamente descrições canônicas da escola literária árcade no e-book recém-lançado Pedra, Penha, Penhasco: A Invenção do Arcadismo Brasileiro (Pedro & João Editores). A obra está disponível gratuitamente no site da editora.
Ao longo das 99 páginas do livro, o professor discute por que chaves de leitura redutoras e conceitos imprecisos são utilizados para caracterizar o Arcadismo. Chauvin defende que os manuais de literatura brasileira representam a poesia desse período de forma engessada e atribuem a ela sentidos diferentes da intenção original dos poetas. As críticas miram esquemas rígidos e excludentes que se aproximam superficialmente dos poemas.
O anacronismo é um dos problemas de caracterização debatidos pelo autor. Atribuir a categoria de nacionalista aos poemas bucólicos e afirmar que eles antecipavam a formação de uma identidade brasileira são exemplos dessa forma de análise. O professor argumenta que é arbitrário e anacrônico “abrasileirar” autores antes da existência de um Estado independente de Portugal.
A interpretação biográfica, em lugar da investigação sobre o vocabulário e a performance da persona poética, é outro equívoco apontado pelo autor. Os poetas eram indivíduos letrados que ocupavam altos postos administrativos e não eram revolucionários, como descritos pela historiografia.
A pedra, a penha e o penhasco do título do livro não são exclusivos dos poemas de Cláudio Manoel da Costa, Alvarenga Peixoto e Silva Alvarenga. Chauvin escreve que “os elementos da paisagem rústica integravam o repertório de lugares-comuns da poesia que se produzia durante aquele período”. O objeto rochoso aparece também em obras lusitanas e na produção romântica e barroca.
Pedra, Penha, Penhasco: A Invenção do Arcadismo Brasileiro, de Jean Pierre Chauvin, Pedro & João Editores, 99 páginas. O livro está disponível para download gratuito neste link.