Pesquisadores apontam alternativas aos rankings

Avaliações qualitativas e instrumentos nacionais podem fornecer informações mais relevantes às institucionais

 24/10/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 12/12/2016 as 15:36
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Na comunidade acadêmica, a noção de que os rankings precisam ser encarados de forma crítica já está bem estabelecida. Alguns acreditam que os critérios precisam ser revistos. Outros, que os rankings não são capazes, mesmo com mudanças, de avaliar a qualidade das instituições de ensino.

Para o pesquisador Justin Hugo Axel-Berg, que no ano passado defendeu uma dissertação que questiona a relevância dos rankings globais para a academia, a saída seria investir em sua evolução metodológica. “O problema é que todo ano a metodologia muda, isso não é explicado, trata-se apenas de mudança de posicionamento; que resulta em subidas e quedas. Essa desonestidade alimenta a desconfiança”, constata.

Para que as universidades possam tirar melhor proveito desse sistema imperfeito, Axel-Berg defende que apesar de suas limitações óbvias, não devemos nos cegar para o que as classificações possam nos dizer. “Há uma tendência de celebrarmos resultados positivos e ignorarmos totalmente os negativos”, aponta, ao esclarecer que, no Brasil, embora rankings como o Times Higher Education destaquem instituições com alto grau de produtividade, eles revelam também um problema sério das universidades em converter isso em qualidade, na forma de pesquisas de alto impacto.

Sobre a possibilidade de elaborar um melhor sistema de avaliação que não trabalhe apenas com comparações quantitativas, Axel-Berg acredita que buscar paridades utilizando qualidade como critério seria uma melhor alternativa. “Olhando para a Declaração Universal da Unesco sobre Educação Superior, a avaliação deve ser qualitativa sempre que possível. Deveríamos estar olhando para avaliação quantitativa apenas para alimentar uma análise mais profunda de desempenho, em vez de tentar substituí-la por completo”, reforça.

Na visão do professor Rogério Mugnaini, do Departamento de Informação e Cultura da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, o fato de os rankings diversificarem os critérios já é um grande avanço em metodologias avaliativas em escala mundial, principalmente se considerarmos que, anteriormente, as avaliações deste porte se limitavam a dados de produção científica. “Por outro lado, esta dimensão (produção científica) continua tendo peso significativo, porém contando com indicadores provenientes de fontes de informação que privilegiam a publicação em inglês, deixando à margem os países não anglófonos.”

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Acesse aqui o trabalho Competindo no Cenário Mundial: A Universidade de São Paulo e o ranking global de universidades, de Justin Hugo Axel-Berg, na íntegra

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Para Axel-Berg, um ranking verdadeiramente universal de “qualidade” não seria possível produzir, já que se trata de “um conceito multi-facetado aplicado a instituições dinâmicas e complexas”. “Rankings representam a aplicação de uma lógica de negócios para uma área em que isso não é a mais adequada forma de avaliação”, teoriza.

O pesquisador cita alternativas aos rankings mais populares, que já trabalham critérios menos duros de avaliação de universidades. Contudo, essas alternativas existem em forma embrionária. “Enquanto muitos rankings são muito claros sobre suas limitações, existem outras alternativas para um quadro hierárquico que prometem ser melhores ferramentas de gestão”, afirma o pesquisador.

Citando ferramentas como o Universitas S21 e o U-Multirank, que permitem que o usuário defina métricas e modelagens institucionais para permitir uma avaliação com base em perfis e objetivos institucionais específicos, Axel-Berg acredita que, se aplicados, muito em breve “poderemos evitar discussões inúteis sobre qual é a ‘melhor’ da universidade, e nos concentrarmos nos pontos fortes e fracos a serem melhorados”.

Mugnaini prefere não apontar mudanças nos rankings globais. Ele enxerga nas avaliações nacionais uma forma de trazer informações mais relevantes ao contexto e à realidade de cada lugar. “Como não é possível atender às especificidades dos países, instrumentos nacionais (o RUF é um exemplo) são necessários”, afirma.
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Colaborou: Aline Naoe

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Justin Axel-Berg questiona a relevância dos rankings globais

 

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