Na USP Piracicaba, cavalos transformam a vida de pessoas com deficiência

Projeto Equoterapia registra 38 mil atendimentos em atividades e terapias assistidas; empresas e pessoas podem fazer doações para manter iniciativa

 03/07/2023 - Publicado há 10 meses     Atualizado: 08/01/2024 as 13:06
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Na USP Piracicaba, cavalos transformam a vida de pessoas com deficiência

Projeto Equoterapia registra 38 mil atendimentos em atividades e terapias assistidas; empresas e pessoas podem fazer doações para manter iniciativa

 03/07/2023 - Publicado há 10 meses     Atualizado: 08/01/2024 as 13:06

Hérika Dias

Os movimentos rítmicos e repetitivos da marcha do cavalo têm uma similaridade com os da marcha humana. Quando estamos montando um cavalo, ocorre uma integração sensorial que contribui para maior conscientização do nosso corpo, melhora na coordenação motora e do equilíbrio, entre muitos outros benefícios. 

Esse é apenas um exemplo de como o cavalo pode ajudar crianças e adultos na reabilitação física e psíquica. Por isso, ele é considerado um importante método terapêutico, comprovado pela ciência e indicado pela medicina. Mas não é só na saúde que há benefícios, a própria interação com o animal pode ajudar na socialização, autoconfiança e autoestima.

No campus da USP em Piracicaba, cerca de 38 mil atendimentos, principalmente de crianças, foram realizados pelo Projeto Equoterapia Esalq desde 2001. O serviço da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), idealizado pelo professor Claudio Maluf Haddad, tem a proposta de oferecer tratamento terapêutico e educacional complementar com o cavalo a pessoas com deficiência e em situação de vulnerabilidade social.

A equoterapia significou uma transformação enorme na vida do Guilherme e na de toda a família também. Foi uma experiência maravilhosa, um presente mesmo. Além do salto de desenvolvimento, com o Guilherme conquistando uma maior firmeza na coluna, na sustentação do pescoço, foi prazeroso demais acompanhar a conexão e o amor dele pelos cavalos, o contato com a natureza. É um projeto que só traz resultados positivos."

Renata Bigaran, mãe do Guilherme, com síndrome respiratória de Pierre Robin. Guilherme frequentou o projeto por 4 anos

Foto: Projeto Equoterapia / Esalq USP

Criança participa do Projeto Equoterapia - Foto: Projeto Equoterapia / Esalq USP

Foto: Projeto Equoterapia / Esalq USP

Vocês são ótimos! A Bia tem tido resultados incríveis que irão perdurar por toda a vida, tanto no desenvolvimento quanto nas boas recordações. Espero que mais e mais crianças possam ter a mesma oportunidade! Grata a todos!"

Silvia, mãe da Bia, que tem deficiência auditiva

A divulgação das vagas é feita por edital público. A seleção segue critérios socioeconômicos. É necessário ter o diagnóstico/laudo de deficiências físicas e mentais, além da recomendação médica para a equoterapia. Existem três tipos de atendimentos: exclusivamente psicológico, exclusivamente fisioterapêutico, ou híbrido, que inclui tanto o psicológico quanto o fisioterapêutico. 

“Dentro dessas categorias os candidatos são ranqueados em ordem de prioridade e esses dois resultados são cruzados. É feita uma listagem e é selecionado o número de pessoas que é condizente com o número de vagas que temos naquele momento”, explica Sila Carneiro da Silva, professor do Departamento de Zootecnia da Esalq e coordenador administrativo do Projeto Equoterapia da Esalq.

Atualmente, o projeto conta com 10 cavalos com capacidade para atender 24 praticantes, com idade a partir de três anos. Em geral, a sessão é de 45 minutos e as atividades não contemplam apenas aquelas montadas.

“Desde o momento em que o praticante interage com o cavalo, já é considerado a equoterapia, o toque é importante para o praticante. Eles são estimulados a interagir com o cavalo, escová-lo, prepará-lo para subirem. Temos uma proporção de tempo diferente dependendo do grau de evolução do praticante para maior tempo ou menor tempo de atividades no chão. Mas todos eles realizam essa aproximação”, conta a professora Roberta Ariboni Brandi, do Departamento de Zootecnia da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em Pirassununga, e coordenadora técnica do Setor e do Projeto Equoterapia da Esalq.

Sila Carneiro da Silva e Roberta Ariboni Brandi, coordenadores do Projeto Equoterapia - Foto: Divulgação/Esalq USP

Como preparar o cavalo para equoterapia?

A professora Roberta Brandi explica que todos os cavalos usados no atendimento recebem treinamento voltado para a equoterapia e o tempo de resposta vai depender do perfil do cavalo. Além dos dez animais hoje utilizados, há outros três em treinamento.

“Todos os nossos cavalos vieram para o nosso grupo por adoção. Buscamos também no abrigo da prefeitura de Piracicaba cavalos que sofreram maus tratos. Nós temos três cavalos que vieram dessa condição. Então os cavalos passaram por testes para verificar se eles gostariam ou não de trabalhar na equoterapia”.

Hermyone

Galã

Judite

Jane

Coronel

Cacique

Pérola

Iris

Pica-Pau

Neca

Chamego

Oreo

Cacau

Fotos: Divulgação/Esalq USP

O processo inclui testar a aproximação da cadeira de rodas, barulho, repetição de movimentos, e todas as atividades que serão realizadas com o praticante. “A resposta do cavalo em estar apto a trabalhar na equoterapia é dependente da personalidade deles. Tivemos cavalos que em dois meses se mostraram aptos e já estão trabalhando, mas temos um cavalo que, só depois de dois anos de treinamento, resolveu que gostaria de participar do trabalho”, destaca a professora da FZEA.

Para dar um conhecimento maior sobre esse processo de formação do cavalo para a equoterapia, a professora Roberta Brandi ministrará nos dias 29 e 30 de julho o curso “O Cavalo como Protagonista de Atividades e/ou Terapias Assistidas”. 

“A forma de treinamento do cavalo é muito importante para trabalhar com equoterapia. É consolidado que o cavalo é um animal que tem personalidade e podemos usar isso a nosso favor. Gostaríamos de tornar esse conhecimento público para ajudar nos atendimentos de outras equipes e também no conhecimento das pessoas que fizeram cursos para trabalhar com atividades assistidas.”

São 16 horas de conteúdo voltado para profissionais das áreas de saúde, educação e ciências agrárias. O curso será no Setor de Equinocultura da Esalq, na Av. Pádua Dias, nº11, São Dimas, em Piracicaba. 

A iniciativa tem coordenação do professor Sila Carneiro da Silva da Esalq e o apoio da Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq). A taxa de inscrição é de R$ 1.200,00 para profissionais e estudantes, se realizada até 14 de julho. A partir de 15 de julho, o valor é de R$ 1.500,00. Grupo de até cinco participantes paga R$ 1080,00 fazendo a inscrição até o dia 15 de julho. Acesse mais informações aqui.

Os valores arrecadados com a inscrição serão utilizados para a manutenção dos animais do Projeto Equoterapia da Esalq.

Área do Projeto Equoterapia no campus da USP em Piracicaba - Foto: Divulgação/Esalq USP

Para manter equoterapia, é preciso dinheiro

O projeto não tem fins lucrativos, ele é amparado com o apoio do Departamento de Zootecnia da Esalq, do projeto USP Humaniza e da Fealq, de empresas e de doações. Mas a manutenção do espaço, da equipe é custosa, principalmente dos animais: alimentos, vacinas, remédios, controle de doenças.

“Este é um projeto com grande potencial de expansão, mas precisamos ter garantias da sua manutenção. A falta de recursos constante é o que torna o projeto, neste momento, com uma fragilidade em sua continuidade”, alerta a professora Roberta.

O professor Sila também aponta a limitação dos atendimentos: “Não conseguimos planejar no médio, muito menos no longo prazo. Temos que ir atendendo na medida que dá e pensando semestralmente, o que é um problema, pensando no tipo de atendimento oferecido.”

Para contribuir com a manutenção do serviço de equoterapia, eles oferecem algumas atividades assistidas com o cavalo para a comunidade em geral, a partir de pagamento.

Uma delas é a Equitação lúdica, destinada a crianças entre 3 e 8 anos; o Volteio interativo é para crianças a partir de 7 anos e adultos com finalidade educacional, esportiva e recreativa; e a Vivência com cavalos para crianças (idade mínima de 7 anos) e adultos em que é possível acompanhar e participar da rotina diária do animal, e participar de atividades que favoreçam o autoconhecimento através do contato com o cavalo.

“Essas atividades foram desenhadas para dar às crianças noção de equilíbrio, de condução, de domínio, não são simplesmente atividade física, mas oferecem complexidade maior no desenvolvimento da criança. Para os adultos no trabalho de cooperação, o cavalo tem essa grande capacidade de inclusão”, afirma Roberta.

Crianças participam do Projeto Equoterapia - Foto: Divulgação/Esalq USP

Como ajudar?

Empresas e entidades podem se tornar um Parceiro solidário adotando um participante do projeto com perfil de necessidades especiais e em situação de vulnerabilidade social e econômica, pelo período de seis meses, no valor de R$ 3.300,00, ou doze meses, no valor de R$ 6.600,00, em parcela única ou parcelamento no cartão de crédito.

É possível fazer doações através de transferência bancária para a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq) – CNPJ 48.659.502/0001-55, Banco do Brasil: Agência 3149-6 / Conta Corrente 4008-8. Envie o comprovante para projetos@fealq.com.br incluindo nome completo e CPF para receber o recibo.

Para conhecer o projeto de Equoterapia da Esalq, os serviços oferecidos ou como contribuir, acesse o site https://fealq.org.br/equoterapia


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A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.


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