Uso da expressão economia verde por economistas não é adequado

O professor José Eli da Veiga explica que o correto seria utilizar o termo economia sustentável para caracterizar o que é ambientalmente correto

 26/10/2023 - Publicado há 6 meses

Hoje eu queria chamar atenção para o fato de que, em geral, toda vez que surge algum tipo de grande conflito ou uma controvérsia, mais comum é que sejam identificadas três posições: duas dos extremos em geral e depois uma do caminho do meio, que também costuma ser muito ironizada ou combatida de forma sarcástica como “estar em cima do muro”. Isso é o mais comum em qualquer coisa. É assim, por exemplo, se a gente pegar o debate atual sobre a inteligência artificial – falando isso que é principalmente quando se coloca em questões sobre o futuro. Então, se pegar, por exemplo, o caso da inteligência artificial, fica muito claro que existem os que rejeitam e do outro extremo os que aceitam entusiasticamente. Vamos dizer que os dois extremos em geral são entusiásticos. E, no meio, você pode dizer que todo o resto do que não está nos extremos estaria num meião. Mas, na verdade, em geral quando a gente olha bem vê que tem gente que tende para uma rejeição a contragosto, por exemplo; e outras que tendem por uma aceitação, um apoio que é mais cauteloso e crítico. Ou seja, em vez de uma espécie de trindade de posições, o que a gente encontra no mínimo é um quadrante. Um quadrante de posições que, em geral, é muito importante que a gente tenha em conta esse tipo de tipologia quando se pensa em coisas futuras.

São muitas as questões nas quais podem ser aplicadas esse raciocínio que eu acabei de fazer, mas o meu interesse principal é em relação aos posicionamentos que os economistas estão tendo em relação à chamada economia verde. Em primeiro lugar, eu queria chamar atenção de que essa expressão, embora seja inevitável, é péssima. Essa escolha da cor verde, que aconteceu não sei há quantos mil anos, para caracterizar tudo o que seria ambientalmente correto, porque os oceanos ocupam 70% da biosfera e é o maior estoque de carbono. E a pior coisa que pode acontecer é você imaginar um oceano verde. Tem uma certa ingenuidade aí nas pessoas que entusiasticamente repetem esse adjetivo verde quando querem se referir ao desenvolvimento sustentável ou coisas do gênero. Eu não sei porque elas rejeitam; talvez porque a palavra sustentável seja muito mais comprida do que verde, e em geral as palavras mais curtas tendem a se impor. Mas, neste caso, eu acho que quem usa a ideia de economia verde o faz com extrema falta de cautela ou, como eu disse, ingenuidade. Eu não teria agora como apresentar quais são os quatro tipos de economistas quando pensam na questão do desenvolvimento sustentável, mas tenho tempo para dizer que procurei fazer isso apresentando essa tipologia numa coluna que será publicada amanhã no jornal Valor Econômico, na minha coluna mensal do Valor Econômico, que eu vou disponibilizar aqui para quem puder acessar.

Sustentáculos
A coluna Sustentáculos, com o professor José Eli da Veiga, vai ao ar quinzenalmente quinta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção na Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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