O que apreender da reunião em Seul que discutiu a governança da inteligência artificial?

A IA deve ser inclusiva desde a pesquisa científica, nas universidades e empresas, e esse é o tom que deve marcar os debates do G20 aqui no Brasil

 04/06/2024 - Publicado há 6 meses

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Representantes de dez países economicamente fortes estiveram reunidos em Seul no final do mês e decidiram impulsionar a cooperação internacional e o diálogo sobre inteligência artificial. Há o consenso de que segurança, inovação e inclusão são objetivos inter-relacionados e que devem pautar o debate internacional sobre a governança da inteligência artificial. Para esses países, a cooperação global é mais do que necessária para que seja desenvolvida uma inteligência artificial centrada no ser humano, nos valores democráticos, no Estado de Direito, nos direitos humanos fundamentais e coordenada a partir de órgãos como o G7, G20, OCDE todos empenhados na preparação da Cúpula do Futuro, a ser realizada em setembro  deste ano.

Glauco Arbix tem, porém, algumas questões que considera pertinentes a respeito desse encontro: “Será que vai funcionar em um mundo que tanto despreza a cooperação, que convive com conflitos cruéis e crimes de guerra que matam milhares de civis, a começar pelas crianças, como na invasão da Ucrânia pela Rússia e na guerra de Israel contra o Hamas? Será que há realmente espaço para cooperação entre países diante da proliferação de grupos supremacistas brancos, antissemitas, de terroristas e racistas entusiasmados com o avanço dos partidos de extrema direita? Será que essa cooperação tem alguma  chance de prosperar quando temos diante dos nossos olhos uma competição acirrada entre empresas gigantes, que não hesitam em secundarizar a segurança da população e priorizar a disputa pela liderança tecnológica”? Para o colunista, os obstáculos são muitos e dependem do mundo da política.

Arbix lembra, ainda, que a inteligência artificial atualmente é desenvolvida por um pequeno grupo de empresas, chamadas big techs, baseadas em poucos países, aqueles que possuem poder computacional, competência profissional e capital para investimento. “A cooperação que é importante significa discutir e modificar o curso atual, em que a esmagadora maioria dos países da população mundial não tem voz ativa efetivamente para tornar a IA inclusiva e voltada para o bem-estar de todos. A IA é a tecnologia mais poderosa que a humanidade criou, não é razoável que seu futuro esteja nas mãos de um pequeno grupo de empresas sediadas em poucos países e que, na verdade, deixam a esmagadora maioria do globo fora desse debate. Tornar a IA inclusiva desde o seu nascimento na pesquisa científica, nas universidades e empresas é o que deve marcar o coração dos debates. Isso é fundamental para que a gente tenha uma IA efetivamente transparente, responsável  e inclusiva”, finaliza ele.


Observatório da Inovação
A coluna Observatório da Inovação, com o professor Glauco Arbix, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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