Gratificação rápida é um dos fatores que podem explicar a dependência das redes sociais

Para Jackson Bittencourt, os aplicativos são desenvolvidos com o objetivo de produzir um sentimento de necessidade que deixa o indivíduo mais tempo conectado às redes sociais

 09/01/2024 - Publicado há 4 meses     Atualizado: 24/01/2024 as 7:16
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Midias – Tik Tok – Foto: Pixabay

 

Músicas, danças, dublagens e curiosidades são conteúdos populares associados ao TikTok, aplicativo de celular mais baixado do mundo nos últimos anos, contabilizando mais de 670 milhões de downloads apenas em 2022. No Brasil, de acordo com levantamento realizado pelo DataReportal, mais de 80 milhões de pessoas são usuárias do programa.

Jackson Bittencourt, professor do Departamento de Anatomia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP), explica como o uso da rede social está relacionado com a dopamina e as emoções do ser humano.

Transmissor da felicidade

A dopamina é um neurotransmissor que, como qualquer outro, é responsável por transmitir as informações de um neurônio para o próximo, isto é, são os mensageiros do cérebro. Mas, de forma singular, ela está associada aos hormônios da felicidade, provocando sensações de prazer, satisfação, motivação e, também, atuando nos processos cognitivos.

“Ela é sintetizada em alguns neurônios de grupamentos celulares diferentes no nosso cérebro. Cada um deles tem uma responsabilidade funcional, a partir da Área Tegmental Ventral, que produz neurônios dopaminérgicos e se projeta para o córtex cerebral, onde damos conta das coisas gratificantes”, explica o especialista. 

Aplicativos  dopaminérgicos

Jackson Bittencourt, Presidente da Agência USP de Gestão da Informação Acadêmica – Foto: Divulgação/Aguia

Segundo um estudo, publicado na revista científica NeuroImage, existem áreas do cérebro humano que são ligadas a um sistema de recompensa. Nesse sentido, aplicativos como o TikTok e o Instagram são responsáveis por ativar esse conjunto por meio dos seus vídeos e produzem uma sensação de satisfação momentânea.

Conforme Bittencourt, essas imagens gratificantes remetem o indivíduo a alguma relação com memórias afetivas, podendo ser cor, movimento ou som. Ele compara com a situação de quando uma pessoa entra em determinado lugar, sente o cheiro de algum alimento que fez parte da sua infância e fica com vontade de consumi-lo, muitas vezes por conta de momentos felizes com sua família ou amigos.

Em especial, esses programas de celulares possuem vídeos curtos, com edições aceleradas e músicas populares e um algoritmo pessoal, ou seja, são personalizadas com base em antigas interações do usuário. Dessa forma, o professor explica que essa gratificação rápida deixa o indivíduo mais tempo ligado no aplicativo por conta da facilidade no prazer: “O elemento físico depende de atenção, raciocínio, julgamento e abstração, é algo mais demorado. Esse prazer vai ser consolidado posteriormente e não imediatamente como nos aplicativos”.

Vício proposital

Segundo Bittencourt, as empresas criaram os aplicativos com o objetivo de produzir um sentimento de necessidade no indivíduo, de forma que eles não consigam trocá-lo. A partir disso, a inteligência artificial divulga informações e propagandas daquilo que os usuários já consumiram para que eles se sintam cada vez mais ligados à rede.

“Eu estou procurando uma viagem e imediatamente recebo propagandas de diversas companhias que estão promovendo pacotes. Essa dependência foi criada pela empresa, essa informação está na nuvem”, exemplifica. Essa realidade é a mesma para com as redes, que muitas vezes, ao terminar de assistir um vídeo, é recomendado um próximo do mesmo tema.

Por fim, Bittencourt afirma que combater a “ditadura algorítmica” é um território perigoso, pois pode adentrar o âmbito da censura, caso não seja realizado da maneira correta. No entanto, ele ressalta que isso precisa ser regulamentado de alguma forma: “Precisamos que essas informações sejam melhor gerenciadas, medidas são e serão necessárias para evitar esse tipo de problema”, avalia.

Rádio USP

Ouça a entrevista sobre esse tema na primeira edição do Jornal da USP no Ar desta quarta-feira (24):

Logo da Rádio USP

(Texto atualizado em 24/01, às 7h16)

*Estagiário sob a supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira


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