Diversidade da fauna e flora é essencial para uma alimentação sustentável e produção agrícola viável

Para Isabel Garcia Drigo, as conferências da ONU do clima e da biodiversidade deveriam se unir, pois os temas centrais dos debates estão interligados

 Publicado: 04/11/2024 às 11:42
Por

O modelo tradicional está em xeque porque se apoia na ideia de que a simplificação das paisagens agropecuárias é o melhor caminho para a elevação nas quantidades produzidas – Foto: Sergio Amaral/MDS – Governo Federal
Logo da Rádio USP

Com eventos extremos, como secas prolongadas e chuvas intensas, as mudanças climáticas se tornaram um tema central nas discussões ambientais. Segundo Isabel Garcia Drigo, diretora do Programa de Clima, Uso da Terra e Políticas Públicas do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola) e parceira da Cátedra Josué de Castro na iniciativa Think Food and Climate, a preservação da biodiversidade é fundamental para a manutenção da vida no planeta, mas frequentemente é um tema ofuscado pelo foco exclusivamente no aquecimento global.

Isabel Garcia Drigo – Foto: Linkedin

Conforme a pesquisadora, durante a 16ª Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade, conhecida como COP Bio, realizada entre 21 de outubro e 1º de novembro de 2024, na Colômbia, o aspecto de relevância desse tema foi ressaltado. Ela explica que existe uma relação vital entre biodiversidade e alimentação saudável. “A diversidade de espécies da flora e da fauna no ambiente agropecuário é fundamental para uma produção viável”, afirma.

Biodiversidade

De acordo com a especialista, a presença de árvores nos pastos é extremamente relevante, pois, além de fornecer sombra alivia o estresse térmico dos animais dessas áreas. Em locais de proteção ambiental as árvores conservam a água e servem de lar para diversas espécies, como os insetos, por exemplo. Ela destaca que, quando os habitats dos insetos não são preservados, os insetos migram para as lavouras e tornam-se pragas.

Sobre os desafios na proteção da biodiversidade, Isabel menciona que a diversidade não é vista como aliada do desenvolvimento. Para ela, historicamente, a humanidade tem retirado o território dos animais e plantas para a criação de sistemas de cultivo homogêneos. Conforme Isabel, a crise climática vem ensinando de maneira severa a importância da biodiversidade para o equilíbrio dos sistemas naturais.

Biota do solo

Segundo a diretora do Imaflora, pesquisadores estão alertando para a alarmante perda da biota do solo, composta de diversos seres vivos, como insetos, vermes, fungos e bactérias, essenciais para a fertilidade do solo. Esses organismos desempenham funções cruciais, como oxigenar o solo, decompor matéria orgânica e manter a umidade necessária para a agricultura e pecuária. 

+ Mais

Solos saudáveis combatem a insegurança alimentar e mitigam os efeitos das mudanças climáticas

Altas temperaturas afetam o organismo de bovinos e diminuem a produção no campo

Apesar de sua importância, o valor desses seres vivos não é adequadamente reconhecido pelas pessoas. Conforme Isabel, esses animais criam as condições para que a produção agrícola e pecuária aconteça naturalmente, mas o valor disso não é levado em conta, pois acredita-se que a tecnologia pode substituir esse papel nos ecossistemas naturais. No entanto, a pesquisadora afirma que essa linha de pensamento pode comprometer a produção agrícola sustentável no futuro.

“O progresso das conferências é incremental, ele é pautado por acordos, escritos e grandes compromissos firmados e, na minha visão, a conferência do clima e da biodiversidade deveria ser unida em uma só. Mitigar os efeitos das mudanças climáticas passa por proteger as florestas e as espécies de animais também e, por outro lado, adaptar os ecossistemas e os territórios para alcançar maior resiliência também passa por favorecer sistemas mais diversos”, diz.


Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.