Obra na Sena Madureira vai na contramão do modelo urbanístico que se deseja para a cidade

Raquel Rolnik alega que a obra na região remonta a um modelo de intervenção dos anos 70, quando os projetos urbanos não levavam em conta problemas como os eventos climáticos extremos

 14/11/2024 - Publicado há 4 semanas

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O tema desta coluna da professora e urbanista Raquel Rolnik é a construção de um complexo viário na região da Rua Sena Madureira que está gerando polêmica. A obra já foi interrompida pela Justiça por pressão dos moradores da região e até do Ministério Público. A justificativa da Prefeitura para a realização da obra – que prevê a construção de dois túneis – é melhorar a fluidez do trânsito, “mas no momento toda a discussão urbanística que está acontecendo no planeta é como repensar a forma de ocupação do solo, no sentido de usar muito mais soluções baseadas na natureza”, diz a professora Raquel Rolnik. “Esse túnel não apenas retira toda a cobertura vegetal de uma região, como também ali  tem um córrego, esse córrego (Embuaçu) também vai ser completamente aterrado e tamponado, piorando ainda a situação das águas na região; e mais, vai remover 200 pessoas que vivem na comunidade Souza Ramos, que está instalada ali há décadas, sem nenhuma previsão do que vai acontecer com essas pessoas, onde elas vão morar, para onde elas vão. E tudo isso em nome de um modelo de intervenção na cidade dos anos 70.”

Na verdade, o que está em jogo é o modelo de cidade que se deseja para o tempo presente, quando se tem de encarar o fenômeno das mudanças climáticas, “onde todo o esforço é repensar a forma de se pensar o deslocamento, investindo evidentemente muito mais em transporte coletivo de massa, mas também preparando muito mais a cidade para essa quantidade de eventos extremos que já está acontecendo. O que está sendo feito nesse projeto no túnel Sena Madureira é exatamente o oposto disso”, afirma a professora. Ela ainda chama a atenção para o fato de que não houve diálogo com os moradores da região, cujos protestos “estão sendo violentamente reprimidos”. Raquel cita o caso de uma vereadora que chegou a ser agredida e presa ao defender os interesses dos moradores. “Acho que está mais do que na hora de São Paulo avançar no sentido de envolver muito mais a população na discussão sobre o destino da sua área”, conclui.

 


Cidade para Todos
A coluna Cidade para Todos, com a professora Raquel Rolnik, vai ao ar quinzenalmente quinta-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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