Aumento das temperaturas anuncia sobrecarga hospitalar

Paulo Saldiva alerta que idosos, crianças e portadores de doenças crônicas são os que mais sofrem com as altas temperaturas

 30/10/2023 - Publicado há 6 meses
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Acho que o tema não poderia ser diferente, nós vamos falar das ondas de calor que certamente observaremos e sentiremos nos próximos meses no território brasileiro. Em algumas regiões, como o Centro-Oeste, uma parte do Sudeste, essas ondas serão mais evidentes, mas praticamente todas as regiões brasileiras experimentarão dias com temperaturas que vão chegar aos 40 ou mesmo superar 40 graus.

Infelizmente, o que acontece é que nesses períodos existe um aumento da procura de hospitais, principalmente na faixa etária abaixo de 8 anos e acima de 70 anos. Sofrerão também aqueles que têm doenças crônicas. Essas ondas de calor vão ser acompanhadas por aumentos dos casos de descompensação de diabete, infecção urinária, mortes por infarto do miocárdio, por acidente vascular cerebral e também por agravamento de infecções respiratórias, fazendo então com que exista uma sobrecarga do sistema hospitalar e infelizmente também um aumento substancial do número de mortos […] esse aumento de mortes naturais pode chegar a 50% a mais, ou seja, vão morrer dezenas de pessoas.

E como ocorrem esses adoecimentos e essas mortes? Não será por hipertermia. A hipertermia é um quadro clínico onde a temperatura corpórea fica acima de 41 graus, existe convulsão, existe dor muscular, existem interações da consciência e reações inflamatórias muito claras. Isso a gente pode observar em atletas que têm uma hipertermia induzida por exercícios, maratonistas que às vezes chegam trôpegos à linha e mal completam a chegada, tendo que ser apoiados pelos seus colegas. O que acontece são as pessoas que têm doenças e que descompensam. A desidratação, por exemplo, leva a uma concentração do sangue, perde volume e com isso o sangue fica mais concentrado e a chance de fazer trombos em artérias vitais, como as coronárias e as artérias cerebrais, aumenta, o rim enfrenta essa desidratação, ele vai aumentar o trabalho e reter mais líquido, a urina escurece, a chance é de você ter, com o menor volume urinário, uma infecção urinária, ou esse trabalho excessivo do rim levar a uma descompensação do indivíduo que tem insuficiência renal ou já uma função renal comprometida, que pode levar o indivíduo a uma situação que necessite de hospitalização.

Quando você tem calor e secura, o ar, para chegar nos alvéolos, tem que chegar quase em 98, 99% de umidade relativa. Quem umedece esse ar, que está na rua com 30% de umidade relativa, 35%, para chegar até 90% ou acima de 95% no alvéolo, são as vias aéreas, que desidratam e, ao desidratarem, os mecanismos de defesa, o batimento dos cílios que removem bactérias e  outros microrganismos, ficam prejudicados, consequentemente há risco de pneumonias. Então, é por isso que deveria existir uma previsão do tempo que fosse além da ideia de passar bronzeador ou saber se vai dar praia ou não.

Um alerta mostrando que as pessoas deveriam observar esses sinais, controlar melhor essas suas doenças crônicas e tentar evitar, na medida do possível, a exposição solar nos períodos onde a temperatura fica muito alta, exatamente entre 11 da manhã até o final da tarde. Bom, é isso que nós temos que fazer. É uma pena que, nessas questões ambientais, a gente tenha sempre que pensar que foi feito tão pouco e, quando é feito, foi tão tarde. Vamos agora lutar para reverter esse quadro, é o que nos resta no presente momento.


Saúde e Meio Ambiente
A coluna Saúde e Meio Ambiente, com o professor Paulo Saldiva, vai ao ar toda segunda-feira às 8h, quinzenalmente, na Rádio USP (São Paulo 93,7 ; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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