A genialidade musical de Antonio Carlos Jobim foi implicada inegavelmente na consciência ambiental. Tendo em vista que nos povos egípcio-bantu encontramos a primeira manifestação da consciência de respeito à biodiversidade da humanidade. Esse discernimento alcançou paroxismo com orixalidade, na demanda léxica, do seu parceiro Vinicius de Moraes.
A africanidade que chegou a ganhar também expressão na corporalidade negra que se mostrava na baianidade do violão João Gilberto, que foi inequívoco companheiro musical de Tom Jobim. O bruxo do Juazeiro teve sua percepção criativa na gestação da bossa nova em uma pelada miscigênica de futebol, no qual um chute na bola, ao invés de arremessá-la para frente, lançando-a para o lado no meio-campo, sugerindo-lhe o meio tom, que é estrutural na tessitura da musicalidade bossanovista. Isso se somou ao espírito do quilombismo artístico, que impactou a formação da histórica dupla, Tom e Vinicius, cuja invenção foi do jornalista Haroldo Costa, em pleno protagonismo militante no Teatro Experimental do Negro – TEN, de Abdias do Nascimento.
A confluência, desses fatores próprios da negritude, concorreu para impregnar a musicalidade jobiniana do nódulo da tamboralidade negra, na qual Tom Jobim procurava construir seu onirismo utópico com dinâmica multicultural, em alternativa ao monoculturalismo, da distopia eurocaucasiana.
Quilombo Academia
O Quilombo Academia é transmitido as quintas-feiras, às 13 horas, com reapresentação aos domingos, às 19 horas e 30 minutos, na Rádio USP São Paulo e Ribeirão Preto, e também por streaming. As edições do programa estão disponibilizadas nos podcasts do Jornal da USP (jornal.usp.br) e nos agregadores de áudio como Spotify, iTunes e Deezer.
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