A Ivete apoia a sua musicalidade na africanidade do samba e busca no suingue a construção de um samba estilizado. É nesse contexto que ela demonstra sensibilidade com uma percepção que lhe aponta para o criativo diálogo com o jazz afro-estadunidense. Traços jazzísticos que se são apoiados na instrumentação da brasileira. Na competente criatividade do arranjo tem os destaques tanto a sonoridade do piano e quanto o solo jazzístico do violonista Alexandre Vargas, que são fundamentais à consistente interpretação miscigênica de Ivete Sangalo. Com sua baianidade ela canta sugerindo que somente no amor é possível percepção das belezas das relações e das coisas da vida. Investida nesse discernimento de existencialidade dionisíaca ela se distancia do cartesianismo da falsa da aparência apolínea do mocismo pequeno burguês eurocaucasiano.
A cantora Ava Rocha traz um arranjo, articulado na tamboralidade africana. Com inequívoca criatividade apresenta uma melodia que é calçada em dois refrões, buscando a construção de uma atmosfera de afirmação positiva da axiologia negra, lembrando o ritmo o candomblé. Com irreverência miscigênica ela constrói, concomitantemente, à levada do galope dos folguedos nordestinos. Fazendo uma trama lúdica com a sonoridade futurista, dialogando com elementos da orixalidade, que é mostrada como protagonista da criatividade negra de Ava. Sua música crítica e reflexiva é mais uma luz no conceito da necropolítica, do filosofo camaronês Achille Mbembe, que chama atenção para a violência da institucionalidade eurocaucasiana, que tenta verticalmente impor o poder do julgamento determinante de quem deve morrer. A música da Ava Rocha constitui uma denúncia à violência do negrocidio, que tem tentado abater as crianças das favelas cariocas.
Quilombo Academia
O Quilombo Academia é transmitido as quintas-feiras, às 13 horas, com reapresentação aos domingos, às 19 horas e 30 minutos, na Rádio USP São Paulo e Ribeirão Preto, e também por streaming. As edições do programa estão disponibilizadas nos podcasts do Jornal da USP (jornal.usp.br) e nos agregadores de áudio como Spotify, iTunes e Deezer.
.